Seguro: «O Governo tem de assumir as suas responsabilidades e não se desculpar com mais nada»
O líder do PS foi entrevistado pelo Diário Económico, com quem discutiu temas como a necessidade de pedir mais um ano à troika, as privatizações, o Orçamento de Estado de 2012 e as eleições autárquicas.
António José Seguro garante que não aceitará mais medidas de austeridade, mas defende que existe apenas uma alternativa: pedir mais um ano à troika para cumprir os objetivos do défice. “Porque o que está aqui em causa é uma receita que o Governo aplicou – austeridade a qualquer preço – que tem efeitos negativos”, explicou.
“Pedir mais tempo significa mais tempo para a consolidação das contas públicas. Em segundo lugar, defendo uma dose diferente de austeridade e defendo a prioridade para as contas públicas com base no crescimento económico e no emprego. Devemos apoiar as empresas exportadoras e, ao mesmo tempo, também defendo uma política de apoio à produção nacional, para que possamos proceder à substituição de importações por produtos nacionais, diminuindo de uma forma sustentável o nosso défice externo”, revelou.
Sobre a possibilidade de reposição dos subsídios de Natal, o secretário-geral do PS afirmou que “os portugueses sabem que o PS não esperou pelo Orçamento de 2013 para trabalhar na devolução de, pelo menos, um subsídio. Já no ano passado, em outubro e novembro, trabalhámos para devolver um subsídio aos funcionários públicos e reformados. Não conseguimos na totalidade, (…) mas, mesmo assim, houve cerca de 200 mil portugueses que ficaram aliviados dessa situação com propostas concretas que o PS apresentou. É nessa lógica que vamos continuar a trabalhar”.
Relativamente à Cimeira Europeia, António José Seguro considera que é uma reunião que “peca por ser tardia, mas que começa a colocar a resposta europeia na linha certa”. “Portugal beneficiou do que foi a luta de outros primeiros-ministros e lamento muito que o chefe de Governo português não se tenha empenhado e lutado, há muitos meses e também nas vésperas deste Conselho Europeu, para que Portugal pudesse ter um tratamento como teve, por exemplo, a Irlanda ou como teve a Espanha”, sublinhou.
Criticou, ainda, o papel de Pedro Passos Coelho nas políticas europeias: “Deste Conselho Europeu saíram 130 mil milhões de euros destinados a programas de promoção de políticas ativas de emprego. É esta luta que não vejo o primeiro-ministro português fazer”.
O processo de desalavancagem da banca tem sido feito “à custa das empresas” e retirando “dinheiro à economia”, critica. Seguro lembra que o salvamento da banca não pode ser feito sem a garantia de que os bancos estarão “ao serviço da economia”. Criticou, também, o processo das privatizações, não só porque não foi informado sobre o mesmo, mas também pela sua “conceção do que deve ser o Estado”.
“Não tivemos informação absolutamente nenhuma sobre a privatização da REN”, revelou. Mostrou estar contra a maior parte das privatizações, como a TAP, em que afirma não estar “convencido de que esse processo seja positivo para Portugal”, a RTP, a Águas de Portugal e a REN. Explica que “tudo o que sejam redes devem estar no domínio público”.
“Espero que o Executivo compreenda que não é o Governo que vai entrar nos bancos. É o Estado”, lembrou.
O líder socialista atacou, mais uma vez, o Executivo: “O Governo tem de assumir as suas responsabilidades e não se desculpar com mais nada. Tem a maioria absoluta no Parlamento e teve sempre um voto positivo do principal partido da oposição, quer no Orçamento do Estado quer em todos os retificativos, relativos a 2011 e 2012”.
Vincou o papel do Partido Socialista em Portugal, que tem feito uma “oposição responsável, construtiva, positiva”, sendo, deste modo, “o maior garante e maior contributo que se pode dar para a estabilidade do país”.
O secretário-geral do PS também falou sobre as eleições autárquicas. Garantiu que todo o partido “apoia a recandidatura de António Costa, em Lisboa”. Quanto ao Porto e a Coimbra, afirma que falta ainda encontrar “os melhores candidatos”.
“Terminou agora o processo interno de eleição das federações e das concelhias e começará em julho todo esse trabalho para a escolha dos candidatos, em que na maior parte dos casos exige uma articulação muito grande entre as concelhias e as federações e onde, pela primeira vez, quando houver mais do que um candidato haverá eleições diretas onde os militantes participarão com o seu voto para escolher os seus candidatos. É um avanço na democracia interna do PS, é o primeiro a fazê-lo em Portugal”, explicou.
Leia aqui a entrevista em formato pdf.