RESPONSABILIDADE
A afirmação de Marcelo não faz o mínimo sentido, porque, além do mais, nunca tivemos Orçamentos plurianuais. Cada cuidado a seu tempo e, às vezes, ainda não é tempo desse cuidado – eis um princípio elementar que o Presidente, infelizmente, parece ignorar. Ou será que faz já campanha por Santana Lopes, que deu o tiro de partida da sua candidatura no Palácio de Belém? Acresce que o PS não precisa de ser eleitoralista, para ganhar as legislativas de 2019.
O Presidente, desde a semana passada, parece ser o chefe da oposição, o que é altamente condenável no cargo que ocupa. Não sabemos se devido ao vazio de poder que existe no PSD ou por mudança efetiva de estratégia. Pediu ao Governo as consequências do relatório da comissão independente sobre Pedrógão Grande, mas o primeiro-ministro respondeu bem: “É um bocado infantil julgar que as consequências dos incêndios são as demissões dos ministros”. Sobre a tragédia dos últimos dias, Marcelo disse que é urgente passar das palavras aos atos e a resposta de Costa voltou a não tardar.
O primeiro-ministro salientou que estamos em tempo de atos e não palavras, porque vamos implementar as medidas – o Conselho de Ministros tem reunião extraordinária no sábado – propostas pela comissão independente. E concluiu: “É esta a nossa responsabilidade”. É bom que se diga, também, que a maioria dos incêndios é de origem criminosa. Alguns deles começam a deflagrar às duas e três da manhã, o que não deixa margem para qualquer outra razão.
O sucesso português tem muitos inimigos. A sua continuação significará o fracasso total da austeridade alemã. O grande obreiro desse sucesso foi o Governo PS e nunca o Presidente. Marcelo deveria ter isto sempre bem presente, por muito que lhe possa desagradar. António Costa diz que este Orçamento dá continuidade à política de reposição de rendimentos das famílias e fala, para o biénio 2018-19, na maior redução da dívida pública dos últimos vinte anos. Mário Centeno afirma, pelo seu lado, que o Orçamento não é eleitoralista, antes de rigor, e que não houve concessões à esquerda.
A luta pela liderança do PSD vai sendo cada vez mais intensa, mas a afirmação de Rui Rio de que o PSD não é um partido de direita, como alguns o pretendem caracterizar, soa a falso. Apetece perguntar: se Cavaco e Passos não são de direita, onde estará a direita? E estou a ser generoso, porque os políticos que acabei de mencionar têm características, bem vincadas, aliás, de extrema-direita. Sá Carneiro intitulava-se social-democrata de centro-esquerda e desejava que o então PPD aderisse à Internacional Socialista. Hoje, o PSD é membro do Partido Popular Europeu. Como dizia Camões, mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Mas ninguém nega que o PSD se desviou, com gravidade, das suas linhas programáticas. A deriva direitista, de que falo, não é invenção.