Opinião: Qualifica, uma causa nacional
É da maior importância o lançamento pelo governo do programa ‘Qualifica’, destinado a formar adultos de baixos níveis de qualificação.
Portugal tem uma pesada dívida histórica. Uma dívida junto de todos os portugueses que não conseguiram estudar na sua juventude. O país que hoje conhecemos, felizmente, nada tem nada a ver com o Portugal atrasado e fechado que lançou milhões de crianças no mundo do trabalho desde os 11 ou 12 anos. Mas os resultados desse atraso ainda hoje se fazem sentir. Quer na vida dos milhões de portugueses que não concluíram o ensino secundário, para quem os flagelos do desemprego, da precariedade ou dos baixos salários estão muito estão mais presentes, como também nas possibilidades de crescimento do País.
Como todos os dados conhecidos demonstram, são precisamente os pouco qualificados os mais afetados pelo desemprego e os que, depois de perder o trabalho, mais dificilmente encontram emprego. As competências adicionais traduzem-se em salários mais elevados e em maiores facilidades de progressão na carreira. Portugal é dos países onde o nível de qualificação mais influencia os salários. Um licenciado, em média, ganha mais 69% do que uma pessoa com o ensino secundário.
As estatísticas mostram-nos isto há décadas e o diagnóstico está feito há muito. Qualquer política que pretenda melhorar a competitividade económica do País e reduzir as desigualdades tem de responder ao maior défice que temos: as baixas qualificações da população. Infelizmente, a falta de consenso político tem feito o País andar aos solavancos e negar a gerações de portugueses as verdadeiras oportunidades que merecem e o País precisa.
De forma inaceitável, o Governo anterior desmantelou o programa de formação e validação de competências que estava a ser aplicado, sem apresentar qualquer alternativa consistente. Num país como o nosso, desistir da formação de adultos compromete como poucas medidas o crescimento económico do País e a equidade entre gerações. O que foi feito, e meço as palavras, foi um atentado ao nosso desenvolvimento.
É, pois, da maior importância o lançamento pelo Governo do programa ‘Qualifica’, destinado a formar adultos de baixos níveis de qualificação. É essencial para o País que consiga gerar consenso social e apoio político para ser concretizado, pois pagar esta dívida, que divide socialmente o País e que persiste teimosamente como o principal fator do atraso da nossa economia, tem de ser uma causa nacional.
Andar em segurança
Os passeios em Lisboa estão a mudar. Respeitando e mantendo a calçada portuguesa, que é um património e um ativo que engrandece a cidade, estão mais confortáveis e respeitam a mobilidade de todos os cidadãos. Vale a pena lembrar que um em cada quatro lisboetas tem mais de 55 anos. Os riscos associados às quedas na via pública são um dos motivos que retêm em casa grande parte dos idosos.
Mais: numa cidade onde mais de 25 mil pessoas têm osteoporose, as quedas na via pública, resultantes de pisos irregulares e escorregadios, representam um grave problema de saúde pública.
Maus pavimentos podem ser um obstáculo para muita gente: idosos, pessoas com carrinhos de bebé, invisuais, pessoas com mobilidade reduzida. Lisboa está, por isso, a ganhar nova cara. Ruas como as de Alcântara, Alexandre Herculano, Praia da Vitória ou Miguel Torga são algumas das que já dispõem de um projeto integrado, com passadeiras rebaixadas, guias para orientar os cidadãos invisuais e materiais antiderrapantes. Olhe à sua volta e vai encontrar algumas destas ruas e pavimentos. São cada vez mais.
À terceira é de vez?
O debate de investidura de Mariano Rajoy é a 31 de agosto, mas, uma semana antes, ninguém arrisca um acordo de Governo. Mantendo-se as dificuldades, é provável que os espanhóis sejam chamados a votar pela terceira vez num ano. Depois de Portugal e da Irlanda, Espanha confirma as dificuldades dos partidos de centro-direita – após a austeridade dos últimos anos – em conseguir parceiros políticos para formar Governo.
(in Correio da Manhã)