“O PSD apresentou um cenário macroeconómico irrealista e ao contrário do que se faz – que é prever como é que a economia vai andar e perceber quais são as margens que existem para se adotar novas medidas. O PSD fez ao contrário, prometeu tudo a todos. Prometeu cerca de 7.250 milhões de euros em novas medidas, prometeu o IRC, descidas do IRS. Prometeu mais do dobro do que aquilo que o PS prometeu em 4 anos”, sem fazer contas e através de um “programa eleitoral profundamente despesista, insólito e que seria irrealizável sem comprometer a sustentabilidade das finanças públicas”, referiu Fernando Medina, em entrevista ao Observador.
O anterior titular da pasta das Finanças e deputado eleito para a nova legislatura argumentou que, “ao contrário do que o PSD disse, as projeções económicas não são uma questão de confiança ou de fé na economia”, até porque “não se pode governar um país na base da fezada”, observando que só o executivo de Montenegro saberá explicar como pretende executar um programa que “financeiramente não tem sustentação”.
Fernando Medina acentuou ainda que algumas das promessas, como é o caso da redução do IRC, são francamente “más” e que “era bom que não as concretizassem”, salientando que esta é uma medida que consumiria “um volume de cerca de 1.500 milhões de euros de recursos públicos” e teria um grande impacto nas contas do país.
Deixando claro que, tal como o PS já tinha afirmado, é “praticamente impossível” que o Orçamento do Estado para 2025 seja viabilizado.
“1.500 milhões de euros é muito dinheiro em qualquer orçamento, mesmo de países maiores que o nosso. Quando se escolhe uma prioridade desse tamanho, isto tem implicações em deixar de se fazer outras coisas que têm muita importância”, disse.
Para Fernando Medina, esta é também uma medida que, “ideologicamente, insere-se numa linha que o PSD tem seguido ao longo de muitos anos, que é a arte do pensamento mágico. É uma coisa que, aliás, eu aprecio bastante na direita portuguesa: do ponto de vista da política económica, a originalidade é tendente a zero”, conclui, numa nota de ironia.
Defender o prestígio do país
Na entrevista, Fernando Medina não deixou também passar em claro uma crítica assertiva à postura de alguns altos responsáveis políticos, incluindo membros do atual Governo de Luís Montenegro, lamentando que tenham procurado denegrir ativamente a imagem de Portugal junto das instituições europeias, apenas com o propósito de atacar um governo socialista.
“Se algo me causa um profundo incómodo foi ver as vezes em que responsáveis do PSD e de outros partidos fizeram tudo em Bruxelas para penalizar Portugal, nomeadamente quando foi da saída do procedimento de défice excessivo”, em “campanha ativa contra o seu próprio país só para penalizar o PS”.
Fernando Medina lembrou que esta foi uma “moda” iniciada por Durão Barroso, quando denunciou o país para o primeiro procedimento de défice excessivo, apontando que também “elementos muito ativos do PSD – alguns estão neste governo – fizeram isso quando António Costa chegou ao Governo”.
“O que procurei fazer junto dos meus colegas”, contrastou, “é aquilo que eu acho que um ministro deve fazer: proceder à defesa do seu país e à proteção do seu país”.