Na evocação do centenário do nascimento de Natália Correia, no Parlamento, Alexandra Leitão falou numa “mulher livre, plenamente e absolutamente livre, insubmissa, independente, vanguardista, inteligente e corajosa”.
“Evocar Natália Correia é evocar uma das obras mais fecundas, originais e até proféticas da literatura portuguesa, mas não só. É também recordar a memória, sempre viva, de uma pensadora revolucionária, feroz opositora do regime político fascista e anacrónico do Estado Novo, de uma mulher que não aceitava os grilhões da repressão da ditadura”, vincou.
A deputada do PS explicou que a sua “ânsia de liberdade também a tornava cética em relação a todas as formas de disciplina, incluindo a político-partidária no pós 25 de Abril”. “Dizia só aceitar a disciplina quando lhe demonstrassem que ela é uma necessidade ética ou criadora”, tendo pautado assim “a sua atuação como deputada” na Assembleia da República, referiu.
“Foi contra todas as formas de opressão, e a favor de uma liberdade plenamente vivida, que a obra – poética, teatral, ficcional e ensaística – de Natália Correia se insurgiu, assumindo todos os perigos a que as suas posições a expunham, sobretudo nos períodos de conturbação histórica a que nos remete o tempo da sua escrita, que, como prenunciou a própria, só em período póstumo seria verdadeiramente entendida”, assinalou a parlamentar.
A poeta Natália Correia “desbravou caminhos de igualdade não pela imitação de padrões que apelidava de ‘patristas’, mas pela afirmação da identidade cultural da mulher, como forma de dar um novo rumo às sociedades, que designava como ‘matrismo’”, salientou.
Alexandra Leitão mencionou a “revolucionária ‘Mátria’”, onde se pode encontrar a “afirmação da liberdade feminina como força criadora”: “Dizia Natália Correia que o seu sonho de felicidade seria não haver necessidade de poesia como género literário por ela se achar já realizada na vida, porque para os subalimentados do sonho a poesia é para comer”.
No final da sua intervenção, a deputada do Partido Socialista assegurou que, de facto, Natália Correia “alimentou de sonhos” todo um país “enquanto escritora e patrona das artes e da cultura”.