PS recomenda concessão de Honras de Panteão Nacional a Egas Moniz, primeiro e único Prémio Nobel da ciência português
A iniciativa, promovida pelo deputado Hugo Oliveira, natural de Avanca, localidade onde nasceu Egas Moniz, e elaborada pelos deputados socialistas de Aveiro, será entregue na Assembleia da República no primeiro trimestre de 2021.
O projeto de resolução será formalmente apresentado após um conjunto alargado de audições num grupo de trabalho que o PS recomenda que seja criado para o efeito, sob a coordenação do deputado Hugo Oliveira.
Além de todos os partidos políticos, o PS pretende que sejam também ouvidas a Câmara Municipal de Estarreja, a Junta de Freguesia de Avanca, a comunidade cientifica e civil, assim como a família de Egas Moniz, com vista a gerar um entendimento alargado sobre a grandiosidade da obra e vida de Egas Moniz.
Este projeto de resolução pretende inscrever Egas Moniz “na legião dos Sábios, dos Pioneiros, daqueles que passo a passo, conseguiram de alguma forma modificar o rumo da História”, como é sugerido no sítio oficial da Casa-Museu Egas Moniz, em Avanca.
O projeto base proposto pelo PS que prevê a atribuição de Honras de Panteão não pressupõe a transladação do corpo, que se encontra sepultado no cemitério de Avanca, ao lado da sua esposa, por sua vontade, respeitando desta forma a sua vontade de ficar sepultado na sua terra natal, à qual doou grande parte do seu legado.
No projeto do PS recorda-se que o “professor, médico, cientista, político e escritor, Egas Moniz nasceu António Caetano de Abreu Freire, a 29 de novembro de 1874, em Avanca, concelho de Estarreja”, tendo frequentado, depois dos estudos iniciais, o curso de medicina na Universidade de Coimbra, “que termina com distinção em 1899”.
“O seu brilhantismo dá-lhe acesso ao professorado pouco depois, em 1902, iniciando na mesma Universidade, como lente substituto, a sua carreira académica”, salienta-se na proposta do PS, em que também é lembrado o seu legado como ensaísta, cuja notoriedade pública foi alcançada com o livro “A Vida Sexual”, publicado em 1901, tornando-se, entre a 1ª e a 19ª edição, “uma das obras de divulgação científica de maior êxito, ao que hoje chamaríamos de “best-seller””.
“Com a Implementação da República e a criação de novas universidades, transfere-se em 1911 para a recém-fundada Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa”, tornando-se na “Alma Matter” desta Universidade, onde “faz toda a sua carreira académica, ocupando a cátedra de Neurologia e exercendo como Professor Catedrático até à reforma, em 1944”, recorda-se no projeto do PS.
É na área da Neurologia que Egas Moniz desenvolve os seus mais relevantes e proeminentes trabalhos, vindo a ser “galardoado com o Prémio Nobel da Fisiologia ou Medicina em 1949, não pelos trabalhos de angiografia cerebral, mas antes pelos seus trabalhos pela “descoberta do valor terapêutico da leucotomia”.
Torna-se assim o primeiro Prémio Nobel português e, até hoje, o único atribuído na área da ciência, pela técnica de psicocirurgia que desenvolveu, “que se constitui como o primeiro tratamento cirúrgico de certas doenças psiquiátricas, hoje ultrapassado em consequência dos progressos científicos e tecnológicos posteriores”.
O enorme reconhecimento da comunidade científica mundial é amplamente reconhecido pela sua entrada na Academia de Ciências de Lisboa e, como sócio, em muitas academias estrangeiras, como Paris, Madrid, Rio de Janeiro, Estrasburgo, Buenos Aires ou Nova Iorque.
Como político, recorda-se o empenho de Egas Moniz na “causa republicana”, tendo fundado, em outubro de 1917, o Partido Centrista, que mais tarde se vem a fundir no Partido Nacional Republicano liderado por Sidónio Pais, depois de ter sido deputado desde 1903 e um dos deputados constituintes da Assembleia Nacional de 1911.
“Foi durante o regime Sidonista que Egas Moniz exerceu funções de Embaixador de Portugal em Madrid (1917) e Ministro dos Negócios Estrangeiros (1918). Foi nesta qualidade que chefiou da representação portuguesa da delegação portuguesa à Conferência de Versalhes no final da Grande Guerra. Com o fim do regime de Sidónio Pais, Egas Moniz abandona os cargos políticos, deixando definitivamente a atividade política em 1919”, lembra-se ainda na proposta do PS.