Perante um auditório da Aula Magna da Universidade de Lisboa completamente lotado, a candidata socialista deixou uma mensagem clara aos eleitores que ainda não decidiram o sentido de voto.
“Temos orgulho no balanço do que fizemos nos últimos oito anos e temos a ambição e a determinação do muito que ainda vamos fazer”, afirmou, para de seguida apontar para “os riscos reais que Portugal corre se a direita ganhar as eleições” legislativas.
Desde logo, acusou a Aliança Democrática encabeçada pelo PSD de “martelar o crescimento” económico até as suas “medidas caberem lá”, para depois insistir na necessidade de conhecer aquelas que a direita deixará cair se as previsões não se concretizarem.
Criticando enfaticamente o conhecido recurso da direita aos “mesmo truques do passado” para “tentar reconciliar-se com o povo português”, Mariana Viera da Silva reiterou que o programa da AD “não é para levar a sério”.
“Nem o PSD pode acreditar nas suas contas, quando propõe um salário médio para 2030 que, no acordo de rendimentos assinado em concertação social, já está previsto para 2027”, frisou, sublinhando ainda que “se não crescerem o que só eles preveem e que não é acompanhado por nenhuma instituição internacional, ou se por exemplo tiverem uma crise como uma pandemia, então algumas medidas podem ter de cair”.
Exigiu assim uma clarificação por parte do líder da AD, para que diga aos portugueses quais as medidas serão sacrificadas.
“Porque é fácil antecipar que, tal como no passado, a baixa do IRC deverá sobreviver, mas as medidas do Estado social talvez sejam suspensas”, referiu.
Mais adiante, num discurso aplaudido por António Costa, presente na plateia, Mariana Vieira da Silva lembrou que o PS conseguiu “contrariar tudo o que a direita disse” e que foi com as suas próprias políticas que foram alcançados “os bons resultados que eles tanto desejavam e que nunca, nunca alcançaram”.
Contrariando as narrativas de corte e austeridade que foram a marca da governação de direita em Portugal, “o PS conseguiu um recorde de população empregada e melhores salários, com menos precariedade e a economia em convergência com a União Europeia em seis dos oito anos”.
“Agora, digam-me uma coisa: quem falhou sempre, sempre no diagnóstico, poderá agora ter razão nas soluções? Não tem”, concluiu.
Numa referência ao compromisso assumido por Pedro Nuno Santos com a continuidade da execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), a candidata socialista contestou as críticas da direita sobre a alegada utilização destes fundos europeus “só para investimento público”.
“Por isso, é legítimo perguntar: o que é que vão abandonar? As obras nas escolas, como fizeram no passado? Os centros de saúde? As 32 mil casas de habitação pública que o Pedro Nuno Santos desenhou, lançou e que estão agora no terreno? O alargamento do metro de Lisboa e a sua extensão em Loures e em Odivelas? O que é que vão suspender? O que é que vão parar?”, questionou.
A terminar, Mariana Vieira da Silva lembrou que o PS não desejava umas eleições de que o país não precisava, mas, rematou, “continua com a força e a energia para as vencer no próximo dia 10 de março”.
SNS e Estado social estão em jogo
Sobre o caráter decisivo do próximo ato eleitoral pronunciou-se igualmente a presidente do PS/Lisboa, Marta Temido, que deixou um alerta sobre o que se joga nas urnas: “o Sistema Nacional de Saúde, o Estado Social, a vida das pessoas”.
“Que no próximo domingo não seja dado um passo atrás. Falemos claro: são as nossas vidas que estão em causa nas escolhas que vão ser feitas”, avisou, apelando a que “um e cada uma perceba exatamente o que está em jogo, que ninguém se deixe vencer pelo medo e use a lucidez”.
Na sua intervenção de abertura do comício, a líder da concelhia socialista de Lisboa criticou enfaticamente quem pretende reverter a descriminalização do aborto, numa alusão ao dirigente do CDS e candidato da AD, Paulo Núncio.
“Como é possível deixar de tomar partido quando alguns defendem que é preciso limitar o acesso ao aborto e convocar um novo referendo para reverter a lei, completamente alheios ao flagelo de saúde pública que sempre foi o aborto clandestino, em particular na vida as mulheres mais pobres e desfavorecidas? Que sociedade é esta que queremos?”, perguntou.
Contrariando o regresso preconizado pela AD ao antigo modelo de gestão do SNS, “de competição positiva”, trazendo de volta a nova lei de bases de 1990, Marta Temido afirmou que só um sistema de saúde público forte e um Estado social forte, “que protegeu o emprego e as empresas” permitiu que Portugal superasse a pandemia Covid-19.
Por isso, defendeu, “num cenário de incerteza, é mesmo o Estado Social que não podemos perder”, a bem de Portugal e dos portugueses, em especial das novas gerações.
Por sua vez, o líder da JS, Miguel Costa Matos, saudou Mariana Vieira da Silva, cabeça de lista socialista por Lisboa, classificando-a como “uma espécie de madrinha das propostas” apresentadas pelos jovens socialistas, e levantou a vasta assistência quando assinalou a presença do camarada “António Costa, que nos deu oito anos de Governo com mais crescimento, mais emprego e justiça social”.