“Projetos em carteira podem representar oito mil empregos”
Nem todas têm a dimensão da Google, mas há mais grandes empresas a caminho de Portugal. Algumas podem chegar já este ano, e trazem empregos na bagagem. A garantia é dada por Eurico Brilhante Dias. O secretário de Estado da Internacionalização, que acompanhou de perto o dossiê da vinda da gigante tecnológica para Oeiras, revela que o país está perto de ser a primeira escolha de meia centena de investidores internacionais. Com ou sem o apoio dos fundos comunitários do Portugal 2020.
Que balanço faz dos programas de incentivos às empresas em 2017?
O ano passado bateu recordes na angariação de novos projetos, no âmbito da internacionalização, captação de investimento direto estrangeiro e de apoio ao investimento produtivo. Em 2017 a Aicep captou 1,5 mil milhões de euros em novos projetos. No ano anterior o montante não chegou a metade, ficou na ordem dos 659 milhões. No conjunto do Portugal 2020, o ano passado foi o melhor de sempre. Mais do que triplicou a média anual do QREN, que rondou os 481 milhões de euros.
Quais são as metas para 2018?
Em 2015 e 2016 contratualizámos 1,6 mil milhões de euros de investimento.
No conjunto dos projetos em carteira, com candidatura ao sistema de incentivos, a Aicep tem hoje um pipeline de 2,3 mil milhões de euros de candidaturas firmes, o que nos faz perspetivar um ano de 2018 de grandes concretizações. Neste conjunto de investimentos não está a Google, por exemplo, nem os mais de 50 projetos que a Aicep tem neste momento em carteira na área dos centros de competências, dos serviços partilhados e da indústria.
Que projetos são esses? Significa que teremos em 2018 um investimento da dimensão da Google?
A larga maioria destes projetos são de investimento direto estrangeiro. Em 2018 alguns vão entrar com o processo de candidatura ao sistema de incentivos. Mas outros vão avançar sem apoios, como é o caso da Google. No total estamos a acompanhar 53 projetos, que somam aos 2,3 mil milhões de euros que já estão a ser analisados. São dez centros de competências, nas áreas da investigação e desenvolvimento, softwares ou sistemas de informação. Juntam-se 24 centros de serviços partilhados, com origem em países como França ou Estados Unidos. E há ainda 19 projetos na área dos Investimentos Industriais, com destaque para os setores automóvel, aeronáutico ou moda e cosméticos. Só este conjunto de projetos poderá representar a criação de oito mil postos de trabalho.
Em que fase de implementação estão estes projetos?
Estão a ser acompanhados, alguns ainda estão a formatar a sua aproximação ao mercado português, em concorrência com outras localizações. Em muitos desses projetos Portugal ultrapassou o primeiro patamar e está na short list.
Mas serão comparáveis à Google?
O impacto mediático é dificilmente ultrapassável, além de que 535 postos de trabalho é uma operação muito grande. Mas isso não significa que não venhamos a ter outros investimentos importantes, como, por exemplo, no setor automóvel e na aeronáutica, que reforçam a cadeia de valor com um duplo efeito. Ou seja, aumentamos o valor incorporado nas exportações substituindo algumas importações. Não só exportamos mais mas, atraindo uma empresa em concreto, somos capazes de fazer que ela participe na cadeia de valor nacional do processo exportador. O setor agroalimentar é um dos que está em grande crescimento. Em 2020 ou 2021 a balança agroalimentar poderá ser equilibrada.
Estamos a falar de grandes empresas. E as PME, como ficam no quadro dos apoios?
Espera-se que ainda esta semana a Aicep feche um processo em que apoiará a internacionalização de cerca de 1050 PME. Isto significa que a procura das empresas pelo Portugal 2020 para internacionalização é praticamente o triplo do que tivemos no QREN.
O QREN foi executado durante a crise, entre 2009 e 2014. Os números são comparáveis?
Agora estamos a viver um bom momento que compara com um momento menos bom. O país tem vindo a ser selecionado por muitos investimentos orientados para o nosso talento e competências linguísticas. Há um reforço de investimentos industriais, como são os casos da Autoeuropa, da Bosch ou da PSA. Mas durante o QREN a Aicep acompanhou a criação de quase 17 200 postos de trabalho e nove mil milhões de euros de exportações. Durante o QREN, mais aquilo que fizemos até 2016, apoiámos entre 42% e 48% da variação de exportações do país. E 11% dos empregos criados desde 2012 foram-no em projetos acompanhados pela Aicep.
O ruído gerado em torno da Autoeuropa e da PSA afeta a perceção dos investidores em relação a Portugal?
São situações diferentes. O caso da Autoeuropa é importante que seja ultrapassado o mais depressa possível. Para Portugal, para as exportações e para os trabalhadores que têm ali a sua fonte de rendimentos. Foi um dos maiores investimentos de candidatura do QREN em 2014 e é emblemático pelo exemplo para outras empresas. A PSA é diferente. Fez um investimento importante, vai aumentar a produção e as exportações. O que está em causa é a questão das portagens. Não é um caso novo. O Ministério do Planeamento e das Infraestruturas está a acompanhar o assunto e espera-se que até ao fim deste semestre se encontre uma solução.