Projeto piloto já permitiu detetar 54 casos de mutilação genital feminina em seis meses
O projeto arrancou em novembro de 2018 e está previsto durar dois anos, estando a ser dinamizado a nível local pelas Unidades de Saúde Pública nos cinco Agrupamentos de Centros de Saúde (ACS) que abrangem as áreas com maior prevalência do fenómeno: Almada-Seixal, Amadora, Arco Ribeirinho (concelhos de Alcochete, Barreiro, Moita e Montijo), Loures-Odivelas e Sintra.
Vinte e nove profissionais de saúde destes cinco ACS frequentaram a pós-graduação em Saúde Sexual e Reprodutiva: Mutilação Genital Feminina, na Escola Superior de Saúde, do Instituto Politécnico de Setúbal, entre dezembro do ano passado e junho deste ano, e o objetivo é garantir que cada vez mais médicos e enfermeiros sabem identificar não só casos de mulheres já mutiladas e prestar-lhes os devidos cuidados, como também prevenir novos casos.
A secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade disse à Lusa que graças a este projeto foi já possível identificar quase tantos casos de mutilação genital feminina como em todo o ano de 2018.
“Nós tínhamos uma média de sinalizações no portal ‘Dados em Saúde’ de 60 por ano. Neste momento temos já, em início de julho, 54 sinalizados, que foram identificados como sendo de mutilação genital feminina”, disse Rosa Monteiro.
A secretária de Estado sublinhou que as 54 sinalizações feitas não são necessariamente de práticas de mutilação recentes, significando sim que há “uma maior capacidade do sistema de saúde de identificar, sinalizar e diagnosticar estes casos”.
“São mulheres de todos os grupos etários, na esmagadora maioria, como se tem vindo a registar, a identificação ou a prática foi realizada fora do país”, apontou Rosa Monteiro.
Apontou que o enfoque na prevenção é fundamental porque o objetivo é efetivamente erradicar a prática, mas sublinhou que não pode ser negligenciado o facto de as mulheres excisadas precisarem de acompanhamento, apoio e terem necessidades específicas ao nível da saúde sexual e reprodutiva.
De acordo com Rosa Monteiro, houve já alguns “casos curiosos” de profissionais de saúde que antes da formação admitiram ter dificuldades em identificar os efeitos físicos da mutilação.
“Esta maior capacidade de identificação é fundamental porque quando não se sabe identificar não se vê o problema e por vezes associa-se, e era o que acontecia, a malformações genéticas”, destacou.