“O que assistimos ontem foi um discurso mais focado na oposição do que propriamente em Portugal. Parecia, na realidade, uma tentativa de construir uma narrativa a utilizar numa eventual campanha eleitoral. Em vez de termos assistido a um governo de ação, que quer resolver problemas em Portugal, assistimos a um governo da vitimização, do queixume, de não o deixarem trabalhar – e é provavelmente o que vamos assistir ao longo dos próximos meses”, disse o líder socialista, em conferência de imprensa na sede nacional, em Lisboa.
Lembrando que nas eleições do passado dia 10 de março, a AD teve 28,84% dos votos e o PS 28%, uma diferença de 50 mil votos e de dois deputados em mais de seis milhões de votantes, Pedro Nuno Santos sublinhou que “o PSD e o Governo não se podem colocar na posição de ficar à espera que o PS venha resolver ou dar a maioria que o povo português entendeu não lhe dar”.
“O que assistimos ontem foi um desafio ou uma chantagem, como se o PS estivesse obrigado a aprovar, sustentar ou a viabilizar um governo que quer implementar um programa com o qual o PS discorda”, acrescentou.
“Se o ‘não é não’ de Luís Montenegro é para levar a sério, o que eu disse na noite eleitoral também é para levar a sério: o PS será oposição, uma oposição responsável, que votará a favor daquilo com que concordamos e votaremos contra aquilo que não concordamos”, garantiu Pedro Nuno Santos, observando que o Partido Socialista também apresentará as suas iniciativas, de que é exemplo, como vincou, a disponibilidade já anunciada para viabilizar um orçamento retificativo “limitado às questões sobre as quais há um consenso entre os vários partidos”.
O Secretário-Geral do PS fez também notar o discurso, “muito típico da direita em Portugal”, ontem iniciado pelo novo primeiro-ministro em torno do “não há dinheiro”, a propósito do debate sobre um excedente orçamental, deixando um aviso.
“Não é o excedente orçamental que coloca pressão sobre a governação. O que coloca pressão sobre a governação é o programa económico do PSD. A teoria dos cofres cheios não resulta do PS, resultou, sim, de uma campanha eleitoral em que a AD prometeu tudo a todos”, disse, vincando que “estamos a falar de milhares de milhões de euros de perda de receita fiscal e aumento da despesa”, e que está espelhado no cenário macroeconómico da AD.
“Nós fomos alertando, durante a campanha, para o irrealismo do cenário macroeconómico e nós hoje assistimos ao início de um discurso e da preparação do terreno político para a não concretização de tudo o que foi prometido durante a campanha eleitoral”, criticou.
Reiterando que o PS e a AD têm visões muito diferentes para o país, quanto ao Estado social, à política fiscal ou na resposta que é preciso dar ao desenvolvimento da economia, Pedro Nuno Santos deixou uma garantia: “o compromisso firme do PS para defender o seu programa e o seu ideário”.
“O compromisso que o Partido Socialista assumiu perante os portugueses é o compromisso que vai respeitar ao longo dos próximos meses. É um dever que temos para com a democracia”, concluiu o Secretário-Geral do PS.