No final da audição do presidente do INEM, Sérgio Janeiro, na Assembleia da República, João Paulo Correia clarificou, em declarações à comunicação social, que “o Governo tinha em sua posse toda a informação sobre o impacto da greve desde o dia 21 de outubro”.
Durante o dia de ontem foram realizadas audições à Comissão de Trabalhadores do INEM, à Associação Nacional dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar, à Associação Nacional dos Técnicos de Emergência Médica, ao sindicato dos técnicos de emergência pré-hospitalar e, por fim, ao presidente do Conselho Diretivo do INEM. João Paulo Correia salientou que foi “reafirmado pelo presidente do sindicato que no dia 21 de outubro fez chegar ao Governo – à secretária de Estado e ao gabinete da ministra – que haveria um impacto no atendimento das chamadas e na mobilização dos meios de socorro, nas ambulâncias e nas viaturas de emergência pré-hospitalar”.
O socialista criticou depois a atitude “especialmente grave” do presidente do INEM, que “procurou responsabilizar e culpar os trabalhadores do INEM que estiveram ao serviço nos dias mais críticos que levaram ao colapso do sistema de emergência pré-hospitalar, nos dias 4 e 5 de novembro, dizendo que faltou algum brio profissional e que a baixa produtividade se devia à desmotivação dos trabalhadores”.
“Mais uma vez, os responsáveis da saúde a passar culpas para os trabalhadores”, comentou o deputado do PS, considerando esta atitude “manifestamente injusta e inaceitável”.
João Paulo Correia alertou em seguida para um dado importante: “O presidente do INEM disse aqui hoje que reúne regularmente com a secretária de Estado e com a ministra e que, nessas reuniões, falaram muitas vezes das reivindicações do sindicato”.
Ora, fica comprovado que “quando a ministra fez a sua declaração pública, no dia 5 de novembro, a dizer que ficou surpreendida com a greve, a ministra mentiu”, disse.
Salientando que “o INEM é dirigido, neste momento, pela ministra da Saúde”, João Paulo Correia recordou que “a própria já acabou por caracterizar que 70% do seu dia-a-dia é dedicado a resolver problemas do INEM”, algo com que, estranhamente, o presidente do INEM se mostrou “muito confortável”.
Presidente do INEM não foi capaz de explicar plano negociado com Governo
João Paulo Correia mencionou, em seguida, que o Partido Socialista “perguntou três vezes ao presidente do INEM qual é o plano que está a negociar com a ministra da Saúde para o futuro do INEM”, mas Sérgio Janeiro “não foi capaz de responder”.
“Estamos com muito receio quanto ao futuro do INEM, porque esta liderança já provou que não foi capaz de gerir um momento muito sensível”, admitiu.
Quanto à recusa de demissão do presidente do INEM, depois de o PS ter perguntado se achava que “continua a ter a confiança dos portugueses para presidir ao INEM depois da incapacidade de responder a uma situação crítica”, João Paulo Correia considerou tratar-se de “uma má notícia para os portugueses que querem continuar a confiar no sistema de emergência pré-hospitalar”.
O socialista alertou, em seguida, para um “conflito de interesses gritante”: “A ministra da Saúde, com um inquérito da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde em curso, colocou esta Inspeção-Geral na sua dependência direta”. E comentou que Ana Paula Martins “omitiu do Parlamento” essa informação, porque “tinha receio de ser censurada”.
OE25 e plano de emergência não têm medidas para o INEM
João Paulo Correia defendeu que “são já muitas as trapalhadas, as negligências, as incompetências, as falhas graves do Ministério da Saúde”.
Durante a audição do Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar, o deputado do PS lembrou que o plano de emergência, “que foi apresentado para resolver os problemas mais graves do Serviço Nacional de Saúde, não tem uma medida para o INEM”, nem o Orçamento do Estado para 2025.
Ora, “o plano de emergência em branco e o Orçamento em branco provam que o Governo não queria mesmo negociar com o sindicato”, asseverou.
E reafirmou que “se o Governo, a ministra da Saúde, a secretária de Estado e o presidente do INEM sabiam que o INEM enfrentava dificuldades ao longo dos anos, então essa era a maior razão para que o Governo não ignorasse e negligenciasse um pré-aviso de greve”.