Na conferência que assinalou, esta segunda-feira, em Lisboa, o terceiro ano da CNN Portugal, o Secretário-Geral do PS participou como orador no painel sobre “O papel da esquerda numa Europa onde cresce o populismo”, ocasião que aproveitou para refletir sobre as diversas razões que estão na base do avanço da extrema-direita no espaço europeu.
“O problema não é só europeu”, assinalou o líder socialista, admitindo preocupação pela “quebra que se verifica na social-democracia um pouco por toda a parte”.
Neste aspeto, lembrou que as sociedades de hoje “são mais individualistas, colidindo de algum modo com projetos e construções comunitárias”, e que as redes sociais “ajudam a amplificar o discurso do ódio e divisionista” que a extrema-direita tenta implantar.
Pedro Nuno Santos não evitou, porém, abordar os aspetos menos conseguidos na ação política da esquerda europeia nos últimos anos.
“Não tenho dúvidas de que se as pessoas nos vários países sentissem que a política lhes respondia às aspirações e dificuldades, o trabalho da extrema-direita seria mais difícil”, pontualizou, explicando que a segurança a salvaguardar não é apenas física, mas passa também pelas dimensões que são garantidas pelo Estado social, como a saúde, a habitação e a educação.
De acordo com o Secretário-Geral do PS, também o setor da economia tem evidenciado a dificuldade que a esquerda e o centro-esquerda têm tido para operar uma transformação que responda às necessidades das pessoas.
Neste ponto, referiu-se ao “desencontro” entre a rápida capacidade que Portugal demonstrou para qualificar a população e a mais lenta capacidade que teve para qualificar a economia portuguesa, retardando o desenvolvimento nacional e o aproveitamento dos novos quadros.
“De facto, não temos sido capazes de acelerar esse processo de transformação do perfil da economia”, admitiu, para de seguida fazer notar que “quando se ouve o atual Governo e os partidos à direita falar de desenvolvimento ou de crescimento económico, não se vê nenhuma estratégia”.
“Quando perguntam ao primeiro-ministro qual é a estratégia política que permitirá que em 2028 a economia portuguesa cresça 3,5%, como de resto estava previsto no cenário macroeconómico, a resposta vai para a fiscalidade”, sinalizou Pedro Nuno Santos, afirmando que tal “revela uma profunda incapacidade de perceber qual é o problema da nossa economia e como é que ela pode ser transformada”.
Indicou então que o verdadeiro problema “tem sido transversal a todos os governos” em Portugal, residindo no facto de “os sistemas de incentivos serem dos mais abrangentes da União Europeia”.
Esta “estratégia menos seletiva” acarreta menos “poder de fogo”, isto é, “menos capacidade transformadora de coisa nenhuma”, explicou, insistindo na importância de “identificar as áreas que tenham maior potencial de arrastamento do resto da economia” para permitir a sua tão urgente diversificação.
“Precisamos de sentir que quem governa tem uma política seletiva capaz de transformar o perfil da nossa economia”, sustentou depois o Secretário-Geral, considerando ser este o verdadeiro desafio a ser vencido para “proporcionar melhor vida aos portugueses e combater a extrema-direita e os populismos ao mesmo tempo”.
Imigração: PS dará contributo para responder a vazio legal
A propósito do setor económico, Pedro Nuno Santos responsabilizou ainda o executivo chefiado por Luís Montenegro pelo problema criado com as alterações às regras da imigração.
“Na tentação de disputar espaço eleitoral com o Chega e com a extrema-direita, o Governo criou um problema a si próprio e à economia portuguesa na forma como fez a revisão da lei da imigração”, criticou, aconselhando “inteligência e seriedade” na hora de falar de imigração.
Avisou então que o travão que foi colocado à entrada de pessoas é também “um travão ao crescimento da economia portuguesa”.
Neste ponto, o líder socialista alertou para o vazio gerado pelo Governo português graças à “ausência de um mecanismo na legislação portuguesa que permita a regularização dos trabalhadores estrangeiros que provavelmente continuarão a entrar”.
“O Presidente da República promulgou a lei na condição de que o país, a prazo, conseguisse encontrar um mecanismo alternativo à manifestação de interesse que estava prevista na lei”, recordou, garantindo que “o PS dará o seu contributo para dar resposta a este vazio”.