Alexandre Quintanilha, que intervinha no debate sobre o Programa do XXIII Governo Constitucional, notou que “é normal que, no início de qualquer legislatura”, se tentem identificar “os alicerces que nos ajudam a confiar num futuro melhor” e nomeou os atuais desafios, entre eles a pandemia de Covid-19 – “que ainda não terminou –, as alterações climáticas, a fragilização do emprego, a instabilidade económica, o ataque à igualdade de direitos e oportunidades e as autocracias que dominam a maior parte dos cidadãos deste planeta”. Ao que se acrescenta “a guerra na Ucrânia, com as incertezas e o medo a elas associadas”.
“A esse alicerce damos o nome de ‘conhecimento’. Porquê? Porque queremos confiar que as decisões – as nossas e as dos que nos governam – na saúde, na energia, na segurança social e na economia se baseiem no conhecimento existente e não nas múltiplas opiniões que, como sabemos, não só proliferam, como se contradizem frequentemente”, esclareceu.
Alexandre Quintanilha, que afirmou que o conhecimento se baseia na educação, investigação e inovação, sustentou que estes pilares “exigem confiança” e “confiança também na própria democracia”. “Será sempre um trabalho inacabado que exige uma aposta continuada”, comentou.
O socialista elucidou todas as bancadas que “o conhecimento tem como origem a dúvida e o seu objetivo será sempre o de reduzir a incerteza”. “Das respostas que se acumulam surgem, invariavelmente, mais perguntas e dúvidas”, frisou o parlamentar, que deu como “excelente” exemplo deste processo a Covid-19, “não só em Portugal, como no mundo”. “Não deveria surpreender ninguém que certas decisões tenham de ser revistas regularmente”, mencionou.
Maior inimigo da democracia e do conhecimento é a mentira
“E é neste contexto que iniciamos esta legislatura, uma legislatura que tem na sua base um voto claríssimo de confiança no trabalho que tem vindo a ser feito pelo Governo de António Costa”, afirmou Alexandre Quintanilha, que destacou que esta confiança “foi construída paulatinamente ao longo de seis anos de governação e deu continuidade à visão e à memória de grandes socialistas como Mário Soares e Jorge Sampaio”.
O deputado do Partido Socialista explicou em seguida que a confiança “foi reforçada durante estes mais de dois anos de pandemia, não só pela aposta na recusa sistemática da austeridade, como na transparência junto dos meios de comunicação e população em geral”. E apontou o resultado revelado no último Eurobarómetro publicado no fim do ano passado sobre os 27 países da União Europeia e mais 11 outros países: “Os portugueses estão em primeiro lugar no que diz respeito à confiança e à curiosidade pelo conhecimento, mas também na capacidade de esse conhecimento resolver os desafios que enfrentamos. Ninguém pode duvidar que este primeiro lugar é o resultado do investimento sempre crescente e continuado durante os últimos seis anos nas áreas da educação, da investigação e da inovação, assim como também no da cultura científica”.
“Hoje a maioria dos portugueses, incluindo os mais qualificados de sempre, confiam no conhecimento e confiam que o Governo usará o conhecimento nas suas políticas”, congratulou-se o parlamentar socialista.
Alexandre Quintanilha, que também é cientista, elogiou depois o executivo por permitir concretizar no seu programa a “ambição antiga” de “chegar aos 3% do PIB investido em investigação e inovação até 2030”, bem como “a lei da programação do investimento em ciência”.
No final da sua intervenção, o deputado do PS avisou que “é sempre quando enfrentamos grandes desafios que percebemos que o maior inimigo da democracia e do conhecimento não é a incerteza, é a mentira, porque a mentira é sempre assertiva e categórica, nunca tem dúvidas porque se baseia na ignorância, é fácil, é simplista, explora a fragilidade do outro, porque normalmente esconde poderosos interesses económicos, políticos, ideológicos e, por isso mesmo, é amplamente financiada mesmo a nível internacional”.
“Porque repetir muitas vezes a mesma mentira, funciona. E porque a insegurança e o medo são fáceis de vender. E, talvez o mais grave de todos estes aspetos, é que a mentira está na base da autocracia”, concluiu.