Portugal não pode prescindir dos jovens qualificados
O “novo ciclo de emigração” registado nos últimos anos “é uma das piores heranças que este Governo deixa ao país”, afirmou ontem o Secretário-geral do PS, em Ponte da Barca, onde apelou aos jovens qualificados, que emigraram, para regressarem, porque Portugal “precisa deles para construir um futuro com segurança e confiança”.
“Eu sei que vocês não desistiram de Portugal, mas quero que também saibam que Portugal não desistiu de vocês, que Portugal não prescinde de vocês, Portugal não vos manda emigrar. Portugal está aqui de braços abertos, Portugal diz precisamos de vocês, voltem porque o pais precisa de construir um futuro com segurança e confiança”, afirmou António Costa.
O Secretário-geral do PS, que falava num jantar comício em Grovelas, Ponte da Barca, disse que “nunca imaginámos que, 40 anos depois do 25 abril e 30 anos depois de termos entrado na União Europeia, tivesse de haver, outra vez, 350 mil portugueses que partiram, não porque tiveram liberdade de partir, mas porque não encontraram em Portugal alternativa a ter de emigrar para encontrar trabalho digno e com a dignidade a que tinham direito”.
António Costa sustentou que o “novo ciclo de emigração não é só os sonhos desfeitos, não são só as famílias que estão separadas, é o que isso significa de perda para o futuro do nosso país”, acrescentando que “o que mais bloqueou o desenvolvimento do país foi não dispormos, durante décadas, do nível de qualificação de que os outros dispunham”.
Por isso, frisou, “não nos podemos dar ao luxo de perder uma geração e ficar à espera da próxima, para de novo tentar recuperar o atraso secular que tivemos”.
O secretário-geral voltou a denunciar o embuste do programa “Vem” apresentado “em ano de eleições” e dirigido ao regresso dos emigrantes.
“É um programa extraordinário”, ironizou, explicando que “quando chegar ao fim permitirá selecionar 20 jovens que terão oportunidade de receber 20 mil euros, cada um, para poder regressar a Portugal e reconstruir a sua vida em Portugal”.
“Num país que nos últimos quatro anos perdeu 350 mil pessoas, perdeu quase 200 mil jovens com quem é que eles estão a gozar ao oferecer um programa que se dirige a 20 pessoas”, acrescentou.
Portugal perdeu nove mil milhões de euros com fuga de cérebros
Entretanto, o “Diário Económico” apresenta hoje um estudo elucidativo. Segundo o documento, somando o investimento feito pelo Estado nestes emigrantes qualificados e a perda de impostos e receitas da Segurança Social que pagariam se estivessem a trabalhar em Portugal, a saída destes quadros já custou nove mil milhões de euros.
Este fenómeno da fuga de cérebros de Portugal, segunda revela o estudo, tem ainda como consequência que os países do norte da Europa “irão beneficiar de capital humano altamente qualificado a custo zero”.
Governo de passa-culpas não merece confiança
Antes do jantar-comício, o Secretário-geral do PS falou na Afurada, em Vila Nova de Gaia, depois de uma concorrida arruada pela freguesia.
António Costa acusou o Executivo PSD/CDS de ser “permanentemente um Governo de passa-culpas, em que nada é da sua responsabilidade e em que a responsabilidade vai sendo lavada nas mãos como se fosse Pilatos”.
“Seja o que acontece com o sistema financeiro, como se o Governo nada tivesse a ver com isso, seja o que acontece na negociação que compete ao Governo fazer junto da União Europeia para proteger os interesses da economia nacional”, disse.
Para António Costa, que contou na Afurada com o apoio da antiga maratonista Rosa Mota, os últimos quatro anos foram “ainda mais difíceis” do que seria de esperar “porque o Governo quis impor mais sacrifícios do que os impostos pela própria troica, nomeadamente com os cortes efetuados nas pensões e com o aumento do IRS”.
Mas, segundo reafirmou o líder socialista, “não é só por causa do passado” que a maioria PSD/CDS “não merece a confiança de ser reeleita”.
“É, sobretudo, por aquilo que agora querem continuar a fazer para além das próximas eleições”, disse, afirmando recusar uma sociedade onde direitos fundamentais como a educação, saúde, Segurança Social, habitação e acesso à justiça “são favores” ou “obra da caridade”.
Direitos fundamentais não são esmolas e caridade
O dia de domingo de pré-campanha por terras do norte começou em Matosinhos, num almoço que juntou mais de duas mil pessoas, onde António Costa teceu duas críticas à promessa feita no dia anterior por Passos Coelho de uma subscrição pública para auxiliar os lesados do BES.
O líder socialista recusou o regresso a um país onde os direitos fundamentais consagrados na Constituição estejam dependentes de “esmolas” e da “caridade” do primeiro-ministro.
“Não foi uma gafe o que o primeiro-ministro disse ontem, foi mesmo a tradução do seu pensamento profundo. Ou seja, o entendimento de que estas coisas dos mercados não têm nada a ver com os governos e que os governos podem lavar as mãos como Pilatos quando os mercados desregulados lançam aqueles que confiam no funcionamento das instituições e lesam aqueles que confiam as suas poupanças à especulação e depois se veem traídos”, disse.
António Costa reiterou que nas eleições legislativas de 4 de outubro “o que está em causa é enfrentarmos uma direita que no seu radicalismo ideológico está disponível para pôr em causa tudo aquilo que julgávamos que já ninguém poria em causa alguma vez em Portugal, que é a natureza pública da escola, o Serviço Nacional de Saúde, o sistema público de pensões e o acesso à justiça sem restrições porque o acesso à justiça tem que ser garantido a todos tal como a habitação, tal como a saúde, tal como a educação, tal como qualquer direito fundamental”.