A posição foi defendida pelo primeiro-ministro português na passada sexta-feira, perante a Câmara do Comércio Luso-Espanhola, onde anunciou que o Minho irá receber, já no outono, a próxima cimeira entre os dois países ibéricos.
“Foi pena ter sido necessário uma guerra para todos compreenderem na União Europeia a questão da segurança energética e da importância de se acelerar a transição energética. Isto recolocou o tema das interconexões e a Comissão Europeia foi muito clara na afirmação de que era necessário completá-las entre a Península Ibérica e o resto da Europa”, declarou o líder do executivo português.
De acordo com António Costa, há agora “uma enorme responsabilidade para Portugal e Espanha – e para as empresas energéticas dos dois países – no sentido de aproveitarem esta ocasião única para que se consiga vencer uma barreira que tem sido muito difícil de transpor até agora”.
“E isto com a Comissão Europeia a dizer que, mesmo que não seja possível fazer a interconexão pelos Pirenéus, haverá a possibilidade de fazer uma ligação direta por via submarina entre Espanha e Itália”, completou.
Neste contexto, o primeiro-ministro salientou que Portugal e Espanha têm de dar a máxima prioridade à questão energética, já que a Península Ibérica, em virtude da capacidade já instalada, “tem condições para suprir quase 30% das necessidades da Europa”.
“Com algum investimento podemos suprir ainda mais. É isso que temos de saber valorizar na nossa posição”, sustentou, assinalando as potencialidades ibéricas na produção de semicondutores, assim como ao nível da produção e abastecimento hidrogénio verde.
Cimeira Luso-Espanhola no Minho
Na sua intervenção, António Costa revelou também que acertou com o seu homólogo espanhol, Pedro Sánchez, que a próxima Cimeira entre os dois países ibéricos vai realizar-se no outono, no Minho, dando destaque à área da ciência e ao Laboratório de Nanotecnologia de Braga.
“O Minho é uma região de fronteira onde há muito tempo não nos encontramos e que permitirá dar a conhecer melhor as potencialidades do Laboratório de Nanotecnologia de Braga, que é algo de ponta a nível mundial e que pode ter um papel crucial ao nível de uma estratégia comum para o futuro”, disse, sublinhando a importância de “aproveitar toda a tecnologia que tem sido produzida nestes centros de investigação”, ao encontro da aposta que a União Europeia tem vindo a fazer “para se encurtar cadeias de valor” e investir “no esforço de reindustrialização”.
Para António Costa, “esse esforço não pode ficar pela Europa de Leste ou pela Europa Central”. “Temos de ter em Portugal e Espanha a capacidade de desempenhar um papel crucial”, apontou, indicando que os dois países “têm recursos para isso e têm uma posição geográfica única numa Europa mais autónoma, mas também mais aberta ao mundo”.
“Portugal e Espanha reassumirão a posição que sempre tiveram ao longo da História: Uma porta aberta ao mundo”, afirmou.
No encontro, que reuniu muitos empresários, António Costa destacou também que Portugal e Espanha registam “uma sólida relação comercial” e uma “forte convergência na defesa de objetivos comuns”, sublinhando “dois exemplos recentes” desta importante articulação: “o mecanismo ibérico para o mercado da eletricidade, pelo qual nos batemos em Bruxelas, para proteger consumidores e empresas”, e o reforço das interconexões energéticas, “que temos defendido no âmbito do RePowerEU”.
“Face aos desafios da transição climática e digital, os empresários dos dois países têm muitas oportunidades para explorar em conjunto, afirmando o potencial do espaço ibérico”, concluiu o líder do Governo.