Intervindo no debate preparatório do Conselho Europeu, que tem lugar esta quinta e sexta-feira em Bruxelas, o líder do Governo socialista sublinhou que “a pandemia deixou evidentes as fragilidades da União Europeia na produção de bens essenciais”, reiterando que é preciso “reforçar a capacidade de relocalizar na Europa muito do que já se produziu no passado”, sem que isso signifique, contudo, adotar um caminho de “isolacionismo e protecionismo”.
“Não podemos continuar a estar sujeitos a cadeias de valor tão longas, onde o risco de disrupção se multiplica”, declarou António Costa, defendendo que a autonomia estratégica e a política comercial da União Europeia (UE) para o futuro deve passar por um reforço do relacionamento transatlântico com os Estados Unidos e Canadá, designadamente ao nível da cooperação tecnológica, mas também com o México e Chile, reiterando, também, a importância da rápida conclusão do acordo com o bloco económico do Mercosul.
“Não podemos perder mais tempo no acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, que é da maior importância”, frisou o primeiro-ministro, destacando também a reabertura das negociações para um acordo de comércio e investimento com a Índia, como “uma oportunidade aberta pela presidência portuguesa e que não pode ser desperdiçada”, a par da diversificação dos acordos comerciais a concluir com a Nova Zelândia e a Austrália.
Acelerar transição energética para responder ao aumento dos preços
Na sua intervenção, António Costa referiu ainda que o aumento exponencial do preço da energia será o segundo tema central da reunião do Conselho Europeu, reforçando que é necessário acelerar a transição energética.
“Para responder ao aumento dos preços, é fundamental acelerar a transição energética para poder ter energia limpa, segura e capaz de assegurar melhores condições para o consumidor”, afirmou, apontando que um bom exemplo do acerto desta estratégia é a comparação entre o que está a acontecer com a subida de preços nos combustíveis fósseis e o preço da eletricidade a praticar no próximo ano, que irá baixar em 3,4% para as famílias e em 94% no custo de acesso às redes pelas indústrias.
“Demonstra bem que quem investiu a tempo está hoje a colher os frutos desta baixa de preço”, sublinhou, realçando, neste aspeto, “o esforço de investimento que Portugal fez nas últimas décadas para poder ter hoje 60% da eletricidade que consome a vir de fonte renovável”.
António Costa salientou, também, a necessidade de aumentar as interligações no mercado europeu para haver um verdadeiro mercado europeu integrado e interligado, de aumentar as interconexões com outros países terceiros que podem ser fonte de origem limpa, como Marrocos, e de ter a capacidade de diversificar fontes energéticas, apostando mais no hidrogénio verde, assim como de aumentar as portas de entrada para o gás natural, “que é uma energia de transição”, sem estar dependente da Rússia, Turquia e Argélia.
Portugal e a União Europeia, sustentou ainda o líder do Governo, devem manter esta “coerência na resposta à emergência climática”, sem que isso signifique, como também acrescentou, desconsiderar a adoção das medidas que se revelem necessárias para responder à atual crise dos combustíveis.