PORQUE VOS ESCREVO?
Lisboa, 24 de Agosto 2015
Caras e Caros Amigos,
A 4 de Outubro, temos eleições e sinto que é meu dever alertar para a sua importância, explicar o que defendo para Portugal, responder a dúvidas que sei muitos terão.
Como autarca, habituei-me a fazer isto no dia-a-dia, nas reuniões públicas de câmara ou na rua. Agora, em eleições nacionais, é mais difícil e provavelmente não terei oportunidade de falar pessoalmente com muitos de vós nas próximas semanas. Por isso, decidi ter uma conversa convosco através desta carta. Proponho-vos que mantenhamos aqui esta conversa, que será feita em vários capítulos, durante os próximos dias.
A proximidade, o diálogo permanente, a vontade de ouvir, o empenho em explicar, são decisivos para criarmos um laço de confiança – e a confiança é essencial para a nossa mobilização coletiva pelo futuro de Portugal.
Estes anos têm sido muito duros para as pessoas, as famílias e as empresas, feriram-nos na nossa auto estima coletiva, puseram em causa a confiança que depositávamos nas instituições , geraram o sentimento de abandono em muitos territórios, provocaram a descrença no projeto europeu, trouxeram o sobressalto e a instabilidade para o quotidiano, a perda de pensões para os idosos, a precarização para os jovens, a ameaça do desemprego para todos. Foram anos de grande retrocesso económico e social.
Mas, mesmo assim, muitos se interrogam: vale a pena votar? Para quê?, perguntam. Será que é possível governar de forma diferente? Afinal, o que querem fazer de diferente? Este é o principal expediente da direita: levar as pessoas a admitir a fatalidade, a inevitabilidade, a impossibilidade de mudar. Recuso esta visão e este fatalismo sem alternativa. Digo, com convicção e com realismo: é possível fazer diferente e fazer melhor, como mostramos desenvolvidamente nos nossos diferentes textos programáticos.
Estas eleições são, de facto, decisivas por 4 razões.
Primeira, porque temos de vencer a depressão, a descrença, a resignação um sentimento de decadência nacional e reconstruirmos um sentimento de esperança coletiva no nosso futuro comum. Temos de iniciar um novo ciclo, com novos protagonistas e uma nova visão para o país.
Segunda, porque há duas opções de fundo que estão em confronto: sobre o nosso modelo de desenvolvimento – assente no conhecimento e inovação, contra a precarização e o empobrecimento – e sobre o nosso modelo social – na garantia da sustentabilidade da segurança social, na defesa do SNS e da valorização da escola pública, contra a ameaça da privatização dos serviços públicos e da destruição do Estado social;
Terceira, porque temos de virar a página da austeridade para relançar a economia, criar emprego de qualidade e com futuro, sanear as nossas finanças públicas.
Quarta, porque temos de reassumir uma postura ativa na Europa, sem submissão nem aventureirismos, que nos permita retomar a convergência e fortalecer a nossa posição no euro.
É sobre estas quatro questões que vos quero falar nos próximos dias.
Até amanhã, com os meus melhores cumprimentos,
António Costa