Plano de recuperação europeu deve responder aos desafios de uma verdadeira união política, económica e social
Para o primeiro-ministro, a batalha pela consolidação da União Europeia perante a gravíssima crise de saúde pública que assola o Continente vai começar já esta quinta-feira, com as expectativas a dependerem das conclusões e dos resultados que saírem do Conselho Europeu, sustentando António Costa que ou a Europa reencontra o caminho da solidariedade ou o “mercado único deixa de fazer sentido, podendo ser mesmo o princípio do fim do projeto europeu”.
Seguido o líder do Governo socialista, o já muito propalado plano de recuperação da Europa, quer ao nível social, quer económico, terá de possuir “uma magnitude entre um bilião e 1,5 biliões de euros”, reconhecendo que, para se poder contar com uma “bazuca desta dimensão”, é absolutamente necessário que se “mobilizem recursos”, procedendo à “emissão de dívida” em nome da União Europeia.
Ainda segundo António Costa, “é particularmente inteligente” avançar com a emissão de dívida para a criação de um fundo de recuperação e a sua integração no Quadro Financeiro Plurianual (QFP), proposta que foi já avançada pela Comissão Europeia, como recordou, uma iniciativa que permitiria desde logo “desbloquear as negociações do QFP e dotar a União Europeia de um programa de recuperação”.
Nesta entrevista, com que o líder socialista inaugura o podcast lançado pelo PS, ‘Política com Palavra’, disponível nas plataformas soundcloud e spotify, António Costa insistiu que tem de haver emissão de dívida por parte da União Europeia, tal como defende a Comissão Europeia, porque esta é a solução que vai “beneficiar de melhores condições” junto dos mercados do que “cada um dos Estado-membros individualmente”.
Caso não se chegue a acordo sobre esta solução ou uma alternativa tão sólida como esta no Conselho Europeu de amanhã, mas, pelo contrário, se verifique um cenário de desacordo entre os chefes de Estado e de Governo, António Costa deixa o aviso de que a União Europeia correrá então o sério risco de “fragmentação e de empobrecimento do mercado interno”.
Crítico, para António Costa, é que países que estão a atravessar dificuldades acrescidas em consequência da pandemia de Covid-19, como é o caso da Itália, possam recuperar o mais rápido possível a sua economia, sendo igualmente determinante, como acrescentou, que países como a Holanda, “dos maiores beneficiários do mercado interno”, compreendam a importância de ter esse mercado interno a funcionar.
Para o primeiro-ministro português, trata-se de saber se a União Europeia quer ser apenas “uma união aduaneira ou um mercado interno no futuro”, admitindo que, se a União Europeia quer ser mesmo uma união política, terá de ser capaz de responder a um “conjunto de desafios desta dimensão”, voltando a lembrar que a “fatura económica e social provocada pela crise de saúde pública da Covid-19 é brutal”.
Na entrevista, o líder socialista e primeiro-ministro voltou a classificar de “exagero” a tese segundo a qual a globalização “vai ser uma vítima da pandemia”, contrapondo que o que é preciso é “reinventar a globalização”, designadamente, como referiu, eliminando “cadeias de valor tão extensas” ou “grandes dependências” de um só país, como a China, que praticamente, como lembrou, “produz todos os equipamentos de proteção individual”.