Pensar adiante | Trabalho
Isto significa que no futuro teremos inatividade generalizada ou alguma forma de autoemprego.
Se associarmos estas realidades ao prolongamento da vida é fácil entender que o atual sistema de segurança social tem os dias contados. Assente no desconto, de parte do salário dos que trabalham para pagar a subsistência dos que não trabalham por desemprego, inatividade ou reforma, já só é viável com receitas extras. À medida que o trabalho se for tornando mais escasso e precário e a vida mais longa, chegará o momento da irremediável rutura. Não se trata de catastrofismo mas de uma previsão evidente e objetiva.
Numa conversa recente para a revista Wired, o Presidente Obama falou de Inteligência Artificial e do seu impacto no trabalho, economia e sociedade em geral. Foi um sinal importante porque o meio político mundial não parece estar atento a estas temáticas tão decisivas. Obama revelou conhecimento e, naturalmente, como compete a um Presidente em exercício, emitiu uma visão positiva. Considerou que teremos capacidade de acomodar a diferença entre o trabalho que se vai perder e o novo que se vai criar. No entanto, pode não ser assim tão fácil. A automação extensiva assente na Inteligência Artificial permite que as máquinas não só aprendam como possam em breve criar e gerir outras máquinas. Nesse momento, a dispensa de trabalho humano não se resumirá a tarefas repetitivas e pouco qualificadas, como sucede hoje com a robótica industrial, mas afetará também as mais qualificadas.
Nesta perspetiva seria importante debatermos, coletivamente, duas questões. Como vai a sociedade garantir a subsistência de vastas populações sem qualquer ocupação ou rendimento? Em que nos vamos ocupar num futuro sem trabalho?
No plano da subsistência iremos certamente ter de adotar algo do género de um Rendimento Universal, ainda que a sua implementação implique mudanças radicais na própria organização económica e financeira. Por exemplo, será este rendimento para todos, viável sem se aplicar um imposto às próprias máquinas que substituem o trabalho humano? Poderão os lucros das empresas continuar a ter uma tão baixa redistribuição?
Já o plano do que fazer é bastante mais interessante. Desde logo porque o humano não é um animal ocioso, mas curioso e hiperativo. Tratar dos outros, tratar da natureza, aprender e imaginar o impossível são campos praticamente inesgotáveis. Outros surgirão no caminho. Por aí não vamos ter problemas. Mas precisamente por isso é importante começarmos desde já a redesenhar estilos de vida e sobretudo a mudar radicalmente o ensino. Até porque a capacidade que temos de aprender e inventar coisas pode mesmo vir a ser a única vantagem competitiva que teremos no futuro com as máquinas inteligentes.