Pensar adiante | Prolongar a vida
Em Portugal passámos de uma esperança média de vida de 64 anos, na década de 60, para os atuais 81 anos. Ou seja, acrescentámos perto de 20 anos em meio século. É tremendo. Ainda mais se pensarmos no mundo. Há um século a esperança média de vida no conjunto dos habitantes do planeta era de 32 anos. Hoje é de 68 anos. Mais do que duplicou.
São dados bem conhecidos das estatísticas mas também da nossa própria experiência. Com 60 anos o meu avô era um velho caquético, hoje muitos dos meus amigos com essa idade nunca estiveram tão ativos. Os extraordinários avanços da medicina, uma alimentação mais equilibrada e uma maior atenção ao corpo e seu funcionamento, explicam este enorme feito da humanidade. Mas o aumento do tempo de vida tem também gerado um novo conjunto de problemas de que a questão da sustentabilidade da segurança social é certamente o mais conhecido, mas não o mais importante.
Importa menos saber como vão as pessoas receber as suas reformas ou de como o sistema nacional de saúde vai ocupar-se de uma população cada vez mais envelhecida. Existem ideias sobre isso e os governos estão atentos. Bem mais importante, e menos debatido, é saber o que milhões de pessoas perfeitamente capazes, quer física quer mentalmente, vão fazer após a sua reforma. Não estamos a falar de uns poucos anos, mas de décadas. Veja-se como algo cinicamente quando a esperança média de vida era de 64 anos a reforma era aos 65… Agora estamos em 81 para 66. Quinze anos de diferença.
O que vai toda esta gente fazer em tanto tempo? Passeios? Visitar os netos? Ouvir conferências sobre temas esdrúxulos? Ou, pelo contrário, continuar uma vida ativa, produtiva, contribuindo para a nunca terminada evolução da sociedade? Certamente não o será num regime convencional de trabalho, ainda que se possa dizer que esse regime, ele mesmo, está em vias de extinção. Esse contributo deverá assumir novas formas de ocupação que estão ainda por inventar.
É certo que a lógica do trabalho à antiga, assente na especialização, na repetição e até na rejeição da inovação, nesse tão comum “você está aqui para trabalhar não é para ter ideias”, criou gerações com muita dificuldade em se adaptarem a novas realidades. Pense-se nos problemas dos mais velhos com os computadores e os incessantes gadgets. Mas em breve teremos novas gerações de idosos cujas vidas já se fizeram num ambiente digital e várias ocupações ao longo da vida. Pessoas muito adaptativas portanto e sobretudo com conhecimentos que não devem ser desperdiçados.
Será inteligente afastar todas estas pessoas dos processos produtivos? Será inteligente não contar com o seu contributo no desenho do futuro?