Pensar adiante | Partidos
Enquanto organismos vivos, os partidos são altamente adaptativos. À medida que a sociedade evolui ou regride os partidos fazem o mesmo. Assistimos, em situações de conflito violento, à derrapagem para os extremismos, enquanto na pacificação emerge a tolerância e a civilização.
Mas hoje temos um novo fenómeno. Os partidos chamados tradicionais têm vindo a desaparecer por toda a Europa, tal como em muito mundo, e hoje é a própria ideia de sistema de partidos e, portanto, de democracia que vai sendo posta em causa. Veja-se o caso dos Estados Unidos, uma velha democracia, quando um único homem captura um partido com mais de dois séculos de existência.
Poderão apontar-se muitas causas. Desde a mediocridade dos políticos à ganância do capitalismo atual. Mas a evolução tecnológica é o elemento preponderante. Aliás, a evolução tecnológica é sempre o grande motor da mudança social, política e económica.
O que mudou então nas últimas décadas que tanto afetou a velha democracia?
A Internet e a revolução digital a ela associada alteraram radicalmente a configuração do tecido social. Ao ampliar significativamente a liberdade individual e generalizar o acesso ao conhecimento, a Internet fragmentou os grupos sociais, muitas das vezes até ao nível dos pequenos grupos e dos próprios indivíduos. Os partidos que representavam classes ou grandes setores sociais, trabalhadores, proprietários, classe média, etc… têm de súbito a necessidade de representar uma miríade de agrupamentos distintos, cada um com a sua visão própria das coisas, aspirações singulares e, muito importante, meios próprios de as reivindicarem, vulgo redes sociais. Os partidos são hoje vastas mantas de retalho desenhadas com geometrias não-lineares. Num tal panorama há sempre uma maioria descontente.
Daí que venham surgindo partidos tutti frutti, sem ideologia, causas definidas, objetivos sociais claros e racionais. O melhor exemplo é certamente o italiano Movimento 5 Estrelas, que a si mesmo se define como uma associação de cidadãos, cuja única coisa em comum é serem contra o sistema, o que quer que isso queira dizer já que nele participam ativamente. Não por acaso o seu líder é um palhaço.
Não é contudo por aí que virá o fim definitivo dos partidos tradicionais. Estamos a assistir a movimentos políticos que, por via tecnológica, ampliam a participação dos cidadãos, associados ou não. O orçamento participativo é um pequeno passo. O voto eletrónico será um maior, ainda que contenha em si o perigo de gerar uma democracia emocional e referendária.
Outro dado importante, nos vários estudos realizados, é a crescente importância das mulheres na política. Apesar de alguns exemplos pouco recomendáveis, as mulheres parecem estar melhor apetrechadas para a gestão política do que os homens. São menos agressivas e tendem a evitar os conflitos. É genético. Uma maior participação das mulheres na política vai provocar mudanças inesperadas.
Numa visão positiva, os velhos partidos, muito hierarquizados e dependentes de interesses privados, irão dar lugar a sistemas participativos, interativos e auto-organizados. Nos quais a diversidade não é um problema mas uma solução inteligente.