Pensar adiante | Desemprego
Durante décadas os governos aplicaram políticas de modo a fomentar a empregabilidade. Ora financiando empresas e projetos de negócio, através de incentivos e tanta vez de dinheiro vivo, ora investindo na educação e na formação dos trabalhadores. São políticas justas mas a realidade mostra que cada vez menos terão resultados favoráveis. Por três razões muito simples. A maioria das empresas que se criam hoje não gera empregos. A educação e a formação assentam, inevitavelmente, no conhecimento passado, ou seja, quando estão por inventar as necessidades futuras. Mas, mais importante do que estas duas razões, avançamos velozmente para um tipo de sociedade que dispensa o trabalho humano. Pelo menos, tal como o conhecemos.
Agora que foi lançado pelo nosso governo o programa i4.0, conceito que abordei no texto anterior, percebe-se que o principal objetivo da indústria atual é avançar para uma automação inteligente através das capacidades crescentes das máquinas. O que implica naturalmente que cada vez mais teremos empresas a produzir, em quantidade e qualidade, com um mínimo de participação humana. Aliás, o conceito 4.0 implica em si mesmo uma mudança radical do nosso papel no universo produtivo. Passamos a criar processos, definir orientações e estratégias, deixando para as máquinas o trabalho pesado, repetitivo ou que exija decisões simples.
É um caminho irreversível e não vale a pena perder tempo com lamentações. Tanto mais que se trata de uma evolução positiva ainda que, como todas, gere alguma instabilidade.
Uma delas, bem visível no debate atual, envolve o ensino e a formação. Não é fácil mudar repentinamente uma entidade tão fundamental para as nossas sociedades, mas também tão complexa. Basta pensar num único dado. O conhecimento tem evoluído a uma velocidade muito superior à capacidade de absorção pelos próprios professores. E são eles que ensinam.
Por outro lado, não é viável imaginar que de hoje para amanhã todos os cidadãos se tornarão engenheiros, cientistas, designers e criativos. Como sabemos a maioria dos habitantes deste planeta está capacitada para tarefas simples ainda que até aqui essenciais. Mesmo no mundo ocidental.
Em suma, iremos atravessar um período de desemprego generalizado, com populações inteiras desocupadas sem meios para reinventar existências. É nesse futuro, de curto e médio prazo, que temos de começar a pensar.
Uma proposta que começou por ser de utópicos e hoje vai surgindo em discursos, e até práticas, de tantos moderados, imagina possível criar um rendimento básico incondicional (RBI), garantindo assim a todos um mínimo de subsistência, assim como tempo e espaço para, pelo menos os mais ousados e criativos, reformularem as suas vidas. É uma boa ideia que deve ser avaliada seriamente. Até porque há muita coisa que se pode fazer para além do trabalho convencional. Por exemplo, ter pessoas a assistir a outras pessoas. E não refiro só na doença, infância ou velhice, mas em quase todos os domínios. Pense-se no aumento dos chamados personal trainers. Para além de inventarmos coisas, essa será provavelmente a nossa maior ocupação do futuro. Deixemos as máquinas trabalhar.