Pensar adiante | Demografia
Deve-se naturalmente à baixa natalidade. Ou, melhor dito, a uma natalidade que não consegue repor a população existente. Para o fazer cada mulher devia ter em média 2,1 filhos. Mas na Europa a média é de 1,3 e em Portugal ainda menos, 1,2. O que significa que cada nova geração é cerca de metade da dos pais.
As razões são evidentes. A principal chama-se civilização. Não por acaso dos 10 países do mundo com menor taxa de natalidade 9 são na Europa. A partir de um certo nível de desenvolvimento as pessoas tornam-se mais conscientes e responsáveis, decidindo quando e quantos filhos querem e podem ter. Por outro lado, uma vida mais ativa, sobretudo das mulheres, leva a que tenham menos filhos.
As consequências desta diminuição nos nascimentos são igualmente conhecidas. No nosso país, por exemplo, fala-se muito da desertificação do interior, da perda de competitividade económica pela falta de mão-de-obra ou ainda da diminuição das receitas fiscais e portanto risco para a segurança social no futuro.
Mas este é um tema em que convém pensar adiante. Desde logo porque, do ponto de vista global, a demografia é de facto um problema mas no sentido inverso. O mundo tem gente a mais. A humanidade é uma praga. Resultando no rol de catástrofes ambientais que conhecemos, extinção de espécies, esgotamento de recursos naturais, poluição dos oceanos, aquecimento global e, não menos importante, miséria generalizada.
A preocupação com a diminuição da população assenta aliás num conjunto de preconceitos.
O primeiro é considerar que o ponto de referência é o momento em que o país teve o maior número de pessoas. Porquê? Porque não considerar uma época em que teve menos e foi viável?
O segundo é falar de desertificação. Portugal tem 114 habitantes por km2. A Suécia tem 20. Já para não falar do Canadá que tem 3 ou da Austrália que tem 2. O Bangladesh tem 1.002, mas é também onde a percentagem dos que vivem na rua ou em bairros de lata é das maiores. O que significa realmente desertificação?
O terceiro é afirmar que mais população gera mais e melhor economia. Não é verdade, vide exemplo dos países nórdicos, com muito baixa densidade populacional, ou do já citado Bangladesh, com muita gente mas igualmente muita miséria.
Frequente é ainda a posição de muitos que, inspirados pela religião ou crença, consideram que o destino da humanidade é crescer sem limite e fazem disso um objetivo em si.
A diminuição da população pode, pelo contrário, revelar-se num mecanismo adaptativo benéfico para a humanidade. Menos gente no planeta significa mais espaço para a vida natural e portanto possibilidade de se repor algum equilíbrio ecológico. Menos gente significa melhor distribuição dos meios de subsistência e aumento do bem-estar geral.
Por outro lado, sabemos como as máquinas estão a substituir o trabalho humano, desenhando-se no horizonte um novo tipo de sociedade onde não existirá trabalho remunerado e se terá de encontrar alguma forma de garantir a existência das pessoas, assim como a sua ocupação.
Nesta perspetiva menos população é melhor do que mais.
Quanto ao “caso” português. Só há uma maneira de repor a população, caso se considere que isso é mesmo necessário. É importá-la, ou seja, abrir as portas à imigração. Não é fácil. Um estudo recente revela que metade dos portugueses afirma que o país tem estrangeiros a mais, quando na verdade na Europa é um dos que tem menos…