home

Pensar adiante | Ciência

Pensar adiante | Ciência

Assistimos, nas últimas décadas, a importantes alterações na forma como se faz ciência. O aparecimento da Internet veio permitir a disseminação do conhecimento como nunca antes sucedeu na história da humanidade. O conhecimento científico é agora acessível globalmente, sem perder, e antes pelo contrário reforçar, as características de constante avaliação, rigor e objetividade.
Governo garante rede de abastecimento de combustíveis

Recorde-se que historicamente o conhecimento esteve sempre associado às elites, políticas e económicas, únicas que tinham acesso e proveito. Ora hoje, e ainda que os muito pobres continuem afastados por falta de recursos mínimos, todos os outros têm condições de desenvolver as suas ideias fora de qualquer validação académica. A ascensão dos autodidatas é aliás um facto impressionante. Pode mesmo falar-se de um efeito Ramanujan, o célebre matemático indiano autodidata. Mais evidente ainda quando se pensa em Bill Gates, Paul Allen, Steve Jobs ou Mark Zuckerberg que revolucionaram a ciência e o mundo.

Em suma, a ciência já não é produzida exclusivamente em meio académico. Pelo contrário, é cada vez mais feita fora dele, quer privadamente, quer em pequenas e grandes empresas. Basta pensar nalgumas descobertas recentes, no domínio da energia, da robótica ou da inteligência artificial para se perceber a importância dos novos meios de produção de ciência não-académicos.

Outro aspeto relevante prende-se com a própria motivação. À curiosidade, ao querer saber, motor fundamental da investigação científica desde sempre, junta-se agora um outro estímulo, o da inovação. 

Vivemos numa era não só de acelerada evolução mas sobretudo de constante inovação. Cada novo produto tecnológico, mesmo se meramente derivativo do anterior, precisa de incluir uma qualquer novidade para ter aceitação pública. Daí a profusão de permanentes upgrades. A ciência, que está na origem dessas tecnologias, é assim pressionada para produzir novidade, o que não sendo específico dos nossos dias o é agora de forma bastante mais determinante.

Resumindo. A ciência é hoje uma atividade aberta a muitos investigadores não-académicos, com o objetivo declarado de produzirem inovação.

Esta realidade tem um impacto significativo ao nível do ensino. Gera um desfasamento entre o meio académico, por natureza formal, pouco adaptativo e lento, e a produção de ciência realizada fora desse meio. Daí que as empresas prefiram cada vez mais criar os seus próprios laboratórios e centros de investigação a dependerem das universidades e das entidades estatais. Em certos países, sobretudo nos Estados Unidos, muitas Universidades tornaram-se extensões das empresas, o que é outra forma de resolver o problema.

Estamos portanto confrontados com um novo contexto científico. A centralização, nas Universidades e centros de investigação estatais, e a validação, expressa sobretudo nos doutoramentos, têm cada vez menos relevância num ambiente de produção científica cada vez mais disseminado, global e indiferente aos graus académicos. 

É evidente que o conhecimento formal continua a ser determinante. Só que agora esse conhecimento pode ser adquirido fora do meio académico tendo como validação o mérito junto da comunidade ou a eficácia produtiva. 

A ciência no futuro será feita dessa forma. Cada um terá o seu laboratório em casa.