Com uma manifestação não autorizada de polícias e militares da GNR à porta do Teatro Capitólio, em Lisboa, local onde se realizou o frente-a-frente, o líder socialista começou logo ali a marcar a diferença em relação a Luís Montenegro, mostrando-se disponível para dialogar com os polícias, após as eleições, avisando, contudo, não estar disponível para negociar “sob coação”.
Neste que foi o único frente-a-frente televisivo da pré-campanha entre Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro, transmitido em simultâneo pela RTP, SIC e TVI, o início do debate foi centrado no cenário de governabilidade, caso venha a sair das eleições um governo minoritário, com Luís Montenegro a fugir à questão, e o líder socialista, mais assertivo, a anunciar que em caso de não vencer as eleições, “coisa que não está no meu horizonte nem tão pouco de nenhum socialista”, não apresentará “nem viabilizará moções de rejeição”. Pedro Nuno Santos recusou, contudo, comprometer-se com um eventual primeiro Orçamento de um governo minoritário da direita, o que faz sentido, como lembrou, porque se o fizesse seria “o pior serviço que poderia prestar” ao país, ao estar a comprometer-se com um documento que ainda se desconhece.
Educação
Os dois líderes debateram depois as propostas e as visões estratégicas que têm sobre os temas fortes que dominam o debate político, educação, pensões, saúde, questões fiscais e habitação, com Pedro Nuno Santos a reiterar a posição de querer recuperar a totalidade do tempo de serviço congelado aos professores, acusando ainda o Governo do PSD/CDS, liderado por Passos Coelho, de ser o principal responsável pela atual falta de docentes, ao lembrar que, entre 2011 e 2015, a direita empurrou para fora do sistema educativo “mais de 28 mil professores”.
Criticou depois a tese defendida por Luís Montenegro quando este afirmou que 25% dos alunos do ensino secundário estão a frequentar escolas privadas, percentagem que Pedro Nuno Santos contestou, acusando o líder da direita de fazer “um discurso panfletário”, aconselhando-o a estudar melhor os dossiês e lembrando que o número que apresenta são alunos que estão entre 10 a 11% no ensino profissional.
Pensões
O tema pensões foi outro dos assuntos debatidos com o Secretário-Geral do PS a garantir, em resposta a Luís Montenegro, que “não há um único pensionista que tenha perdido um único cêntimo que seja na sua pensão” com os governos do PS nos últimos oito anos, lamentando que o líder da AD “insista na mentira”. Para Pedro Nuno Santos, a acusação de Luís Montenegro de que foi PS que retirou pensões, não só não é verdadeira, como não será corroborada por nenhum pensionista.
Pelo contrário, defendeu o líder socialista, os pensionistas sabem que, durante os últimos anos, “as pensões subiram, que a lei de atualização das pensões foi sempre respeitada” e que houve além disso, como também enumerou, “seis aumentos extraordinários das pensões” no período de oito anos da governação socialista, sendo por isso factual, como referiu, que os pensionistas “nunca duvidam do PS quando anuncia aumentos de pensões”, porque “sabem que vamos cumprir, sendo que da direita já não poderão esperar o mesmo”.
Saúde
Sobre Saúde, Pedro Nuno Santos, não fugindo à realidade de o setor atravessar um período com problemas e dificuldades, e de reafirmar “não ter dogmas” em relação ao setor privado, insistiu, contudo, que a resposta aos problemas do serviço público de saúde “não está, como quer o PSD, em desnatar o SNS para reforçar o setor privado”, garantindo que recusa em absoluto a solução da AD, “que é a de definhar o SNS”.
Aventura fiscal
Para Pedro Nuno Santos, as propostas avançadas pelo PSD e pela AD para a descida de impostos representariam “uma aventura fiscal” com consequências inimagináveis para a saúde das contas públicas, que, de imediato, como também assinalou, significaria “um rombo acumulado na ordem dos 16,5 mil milhões de euros só em impostos”, aconselhando mais uma vez Luís Montenegro a fazer contas, algo que, como assinalou, se “impõe a um candidato a primeiro-ministro”.
A nível fiscal, o Secretário-Geral do PS deixou a promessa de que o Governo socialista avançará com a atualização dos escalões ao nível da inflação, “e a ir mais longe se possível”, alertando, contudo, para o “risco de se fazerem promessas eleitorais que não possam ser cumpridas”, voltando a definir o programa eleitoral apresentado pelo PSD e AD de “aventureiro e irrealista”.
O líder socialista voltou a criticar a insistência do PSD em querer resolver todos os problemas da economia recorrendo ao choque fiscal, contrapondo que o país precisa “é de um choque salarial e de produtividade”, garantindo que, tal como é referido no programa eleitoral do PS, haverá aumento da produtividade, “mais do que o que é apresentado no programa da AD” e “sem rombos nas contas públicas”.
Houve o compromisso de um aumento dos salários médios para os próximos anos, quer no setor público, quer no privado, lembrando Pedro Nuno Santos que o Governo do PS já celebrou um acordo com os parceiros sociais que supera as metas agora propostas pelo PSD.
A Habitação mereceu também uma especial atenção neste frente-a-frente, com Pedro Nuno Santos a salientar que há ainda um longo caminho a percorrer, reiterando que “não há balas de prata” para resolver os problemas e a defender que o “melhor caminho” passa pelo “aumento da oferta pública”. Lembrando também que a simplificação de licenciamentos, proposta pelo PSD, “já existe” e foi feita pelo PS, o líder socialista defendeu, pelo contrário, a “adaptação da taxa de atualização das rendas à evolução salarial”.
Na parte final, foi dado a ambos um minuto para se dirigirem aos portugueses que seguiam o frente-a-frente, tempo que Pedro Nuno Santos reservou para lembrar que nas próximas eleições de 10 de março, em vésperas de se comemorar os 50 anos do 25 de Abril, estará em causa a defesa de muitas das conquistas que os portugueses souberam alcançar, com destaque para o SNS e a escola pública, lembrando que o PS “tem resultados para apresentar” e que quer trabalhar e avançar “com a participação de todos”.
“Queremos mais e é esse o nosso desafio para os próximos anos. Fazer hoje, avançar, construir um país onde possamos viver melhor, trabalhando em conjunto, por um Portugal Inteiro”, concretizou o líder socialista.