Ao participar na iniciativa “Diálogo entre Legisladores”, promovida pela Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), o Secretário-Geral do PS lamentou que o Governo de direita que hoje lidera Portugal considere que “o crescimento e a prosperidade do país dependem apenas de baixar os impostos sobre as empresas”.
Apontando responsabilidades ao PSD, que descreveu como um “partido neoliberal”, bem distante da social-democracia que apregoa, o líder socialista criticou fortemente a ausência de estratégia na ação executiva para o setor da economia.
Perante dezenas de portugueses e lusodescendentes com cargos na política norte-americana, Pedro Nuno Santos advogou a importância de definir um plano nacional de investimentos em setores empresariais estratégicos e com potencial de desenvolvimento.
Falando em inglês aos legisladores norte-americanos presentes na sessão, o líder do PS indicou ser difícil implementar esse tipo de política a nível nacional devido às regras de auxílio estatal impostas pela União Europeia (UE) que, apesar de “terem sempre existido”, têm sido impostas “como nunca antes”.
E apontou “as condicionantes da União Europeia” que dificultarem uma política de reindustrialização nacional, favorecendo “poucos centros económicos” em prejuízo de “muitas periferias”, como Portugal.
De seguida, explicou que a UE “é muito melhor no jogo da política de concorrência do que no da política industrial”, mas admitiu que, devido à competição com a China, a temática da reindustrialização já entrou na agenda europeia.
“Com a pandemia, as regras de concorrência foram flexibilizadas, o que acabou por ser positivo”, frisou Pedro Nuno Santos, ressalvando que o “problema” agora é que grandes países do núcleo industrial da Europa – Alemanha, França e Itália – “estão a usar a flexibilização dessas regras para investir nas empresas nacionais de uma maneira que parece injusta para países que também gostariam de investir nas suas empresas, mas que carecem de músculo financeiro para o fazer”.
Construir equilíbrios para combater polarização na UE
Neste contexto, o líder socialista sustentou ser necessário “um novo quadro e um novo equilíbrio entre a política de concorrência e a política industrial”, apelando a que os futuros programas europeus para a reindustrialização sejam desenhados “de uma maneira que garanta que as grandes empresas de todos os Estados-membros possam beneficiar do esforço”, e não apenas “as empresas do triângulo industrial Milão, Toulouse e Hamburgo”.
“Esta história de duas uniões, em que poucos centros económicos tendem a prosperar e muitas periferias enfrentam dificuldades ou empobrecem, tem consequências políticas, como muitas eleições mostraram no passado recente”, avisou, vincando que, quanto mais tarde se reconhecer isso, “mais tarde se irá recuperar alguma estabilidade e reduzir a polarização”.
Combater o populismo com maior rapidez e eficácia na mensagem
Questionado sobre o populismo no país e na União, Pedro Nuno Santos considerou que o crescimento deste fenómeno se deve em grande medida a uma sociedade mais individualizada e ao facto de, numa época de redes sociais, as suas “mensagens simplistas” serem mais facilmente apreendidas pelo público.
“As soluções simplistas são fáceis de transmitir no TikTok. Nesse campo, os populistas estão a ganhar de longe”, admitiu, reconhecendo a importância de desenvolver habilidades para “transmitir mensagens em 30 segundos”.
No espaço para debate, mas a propósito de habitação, Pedro Nuno Santos insistiu na urgência de avançar com a construção de habitação pública.
Neste ponto, criticou o executivo de Luís Montenegro por acenar com a bandeira branca fiscal.
“O fim dos impostos não é a solução”, afirmou o Secretário-Geral do PS, advertindo que, com o passar dos anos, “o preço das casas vai continua a subir e vai comer o corte nos impostos”.