Ao discursar numa reunião do Conselho Estratégico Empresarial de Sintra, na Adega Regional de Colares, Pedro Nuno Santos considerou que áreas estratégicas para a economia nacional não devem ser definidas “no gabinete, nem pelo político, nem pelos ministros ou primeiro-ministro”, mas sim mediante um “debate público participado”.
Reconhecendo um “potencial de arrastamento” no setor metalomecânico, assim como no da saúde ou do hidrogénio verde, o líder socialista sublinhou ser crucial “carregarmos mais esta vertente vertical da nossa política industrial ou económica”, de modo a “dar o salto e nos conseguirmos desenvolver”.
Depois de referir que o “Estado tem um papel muito importante a desempenhar como empreendedor”, Pedro Nuno Santos assinalou que “a transformação necessária já está a acontecer lentamente”.
“Mas ela pode ser acelerada se formos capazes de, enquanto país e sociedade, perceber onde é que podemos aplicar os nossos escassos recursos públicos”, insistiu, mostrando-se contrário à solução fiscal da direita centrada apenas numa baixa do IRC.
Fazendo uma análise genérica da situação da economia portuguesa, Pedro Nuno Santos sustentou que os resultados apresentados pelo anterior Governo do PS “deviam ser celebrados” e servir de “ensinamento para o futuro”.
A este propósito, indicou que, entre 2015 e 2023, a média de crescimento do Produto Interno Bruto passou para 2,2% – quando comparado com 0,2% entre 2000 e 2015 –, destacando que Portugal conseguiu “superar o défice crónico” que fazia com que, sempre que a economia crescia, “vinha logo défice externo”.
O Secretário-Geral do PS reiterou assim a importância de, no debate político, olharmos para o país “com mais orgulho” e com “mais gosto e respeito” pelos próprios cidadãos: “pelos trabalhadores, pelos empresários e pelos políticos também”.
Todavia, Pedro Nuno Santos admitiu que a economia portuguesa “não produz ainda o valor acrescentado” ambicionado.
Especialização da economia é crucial para garantir melhores salários
“Ainda não temos uma estrutura complexa e diversificada, existindo também um desencontro entre o nível de qualificação da população e dos jovens e o tipo de economia”, diagnosticou, frisando que “uma transformação do perfil de especialização da economia nacional é o desafio número um dos portugueses”.
“Essa transformação será crucial para garantir melhores salários e assegurar que os jovens ficam em Portugal”, pontualizou.
Num reforço da argumentação em torno da necessidade de implementar uma política económica com apoios seletivos para áreas estratégicas, Pedro Nuno Santos lembrou que, já em 1984, o Governo chefiado por Mário Soares encomendara ao economista norte-americano Michael Porter um estudo – o chamado “Relatório Porter” –, que identificou, “em trabalho conjunto com a academia e as associações empresariais”, os setores em que o Estado devia apostar.
“E Porter disse que era no têxtil, no vestuário, no calçado, no vinho e no mobiliário onde devíamos investir”, lembrou, assinalando que “alguma coisa ficou desse trabalho” porque “nesses setores nós somos dos melhores do mundo”.