PCP não pode censurar o Governo depois de ter aberto “portas à direita” há um ano
O PS acusou hoje o PCP de há um ano ter aberto as “portas à direita” e de agora vir de “moção de censura na mão dizer que o país está pior”, como se não fosse responsável por isso.
“Há pouco mais de um ano, o PCP, este mesmo Partido Comunista, optou por aliar-se à direita para derrubar um Governo do Partido Socialista. Aceitou prestar esse serviço no dia e na hora que a direita escolheu. Colaborou portanto na abertura de uma crise política, no momento mais conveniente para os interesses da direita e mais inconveniente para os interesses de Portugal e dos trabalhadores portugueses”, atacou o deputado Pedro Silva Pereira.
Pedro Silva Pereira considerou que o PCP esteve no “seu direito” quando se aliou à direita, “mas o que não pode é vir aqui um ano depois de moção censura na mão dizer que o país está pior do que estava como se não tivesse nenhuma responsabilidade no assunto”. No final da sua intervenção, foi aplaudido de pé pela bancada socialista.
O deputado justificou assim que o PS não apoie a moção apresentada pelo PCP, apesar de o Partido Socialista não apoiar a política de “austeridade além da troika” do Governo. Deste modo, optará pela abstenção, para não ficar “ao lado” da maioria PSD/CDS.
Silva Pereira acusou os comunistas de saberem, há um ano, que “a agenda da direita era de austeridade, não contra as gorduras do Estado”, mas “contra as pessoas”, os funcionários públicos, as empresas, as famílias, o Estado social e os direitos dos trabalhadores. Apesar, disso, o PCP ajudou a derrubar o Governo do PS com “a velha cassete” de que PS e PSD são “iguais”, afirmou.
“Não foi preciso esperar mais de um ano para termos aqui o PCP a reconhecer, com esta moção que afinal, feita a prova dos factos, o país não ficou na mesma com a mudança de Governo. Ficou diferente e ficou pior”, acrescentou.
O deputado considerou que a moção de censura do PCP “não pretende decidir nada” e é apenas um “gesto político inconsequente” ao serviço de “manobras táticas” que visam ganhar “protagonismo na oposição”.
Por isso, “por muitas divergências” que o PS tenha com o Executivo, não votará a favor desta moção, criticando o objetivo do PCP de “pretender uma crise política agora”, quando o país fez eleições há apenas um ano e está sob assistência financeira internacional e dadas as “incertezas” quanto ao futuro do euro e do projeto europeu.
Porém, insistiu, o Partido Socialista “demarca-se também claramente deste Governo” e “exatamente para que as coisas fiquem claras”, os socialistas não estarão “ao lado dos partidos da maioria” na votação.
O deputado garantiu que o PS está “ciente” de que é preciso cumprir o memorando de entendimento assinado com a troika, mas destacou que as medidas de que os “portugueses mais se queixam” e que “mais penalizam a economia” não estavam inscritas no acordo original, aquele que foi negociado pelo anterior Governo socialista.
“Era o que mais faltava” o PS “aceitar” essas medidas, afirmou, dando o exemplo do corte dos subsídios de férias e Natal.
“O Governo escolheu por si próprio seguir esta absurda austeridade além da troika”, com “dramáticas consequências” sociais e económicas e que, por outro lado, também não permitem cumprir o “objetivo central” de reduzir o défice do Estado, afirmou.
Silva Pereira sublinhou, ainda, que a abstenção socialista não representa “nenhuma dúvida” ou “hesitação”, sendo antes testemunho da “clareza” das “convicções” do PS de que é possível outro “caminho” que conjugue equilíbrio orçamental e crescimento económico.