Sérgio Sousa Pinto, que intervinha no debate sobre a situação na Ucrânia, proposto pelo presidente da Assembleia da República, comparou a invasão por parte da Rússia com o “fatídico ano de 1938, o ano decisivo para a paz e para a guerra, que abriu as portas à mais trágica carnificina que a História regista”.
“No outono de 1938, 36 divisões do exército alemão concentraram-se na fronteira que separava a Alemanha da Checoslováquia” e, seis meses depois, “a Checoslováquia, única democracia da Europa Central, tinha deixado de existir”, lembrou.
O deputado do Partido Socialista sublinhou que “o pretexto da invasão foi a libertação das minorias germânicas, instaladas nos Sudetas desde a Idade Média”, e avisou que a libertação de minorias, “ontem como hoje, serve de justificação e pretexto para os maiores crimes e para quase todas as guerras de agressão”.
Ora, “as democracias europeias da época entregaram a Checoslováquia ao agressor. Julgavam, assim, servir a causa da paz, sacrificando quem queria defender-se e lutar pelo seu direito a existir”, lamentou Sérgio Sousa Pinto, acrescentando que estas democracias “comunicaram à Checoslováquia, simplesmente, que em caso de invasão não a ajudariam”, numa tentativa de “apaziguar a potência expansionista e revisionista de então – a Alemanha nazi – e preservar a paz no continente”.
“Os povos livres que sacrificaram tudo à paz, não salvaram a paz e perderam a liberdade”, asseverou.
O socialista defendeu que “uma potência revisionista, confiante na sua força, não pode ser apaziguada, só pode ser dissuadida pela força e, se necessário, enfrentada pelas armas”.
E deixou uma certeza: “Se a coragem e o sacrifício do povo ucraniano, bem como o apoio do Ocidente, fraquejarem e a atual situação no terreno congelar de facto, ainda que não de direito, a Ucrânia como nação livre perecerá, como a Checoslováquia pereceu”.
Sérgio Sousa Pinto declarou em seguida que “o destino da Ucrânia não é oferecer profundidade estratégica à Rússia contra inimigos imaginários do Ocidente. Assim como a Europa, ao contrário do que pensa Putin, não é um mosaico de Estados vassalos dos Estados Unidos”.
“A Ucrânia martirizada, ao fim de um ano de uma guerra que lhe foi imposta, e ao fim de um ano de apoio militar e económico que lhe tem sido consistentemente prestado pelas democracias, representa, portanto, a rejeição determinada e total das políticas de apaziguamento seguidas em 1938, pois o apaziguamento dos fortes, dos revisionistas e dos conquistadores é um exercício fútil, cujo fracasso inexorável é um dado da História”, concluiu o socialista.