Partido Socialista homenageia Palma Inácio
O Partido Socialista lamenta profundamente a morte do seu ilustre militante Hermínio da Palma Inácio, e rende uma sentida homenagem à sua memória.
Palma Inácio deixa-nos o mais perfeito exemplo do patriota resistente à ditadura que oprimiu o país durante quase meio século, em permanente, corajosa e indomável rebelião de corpo e alma contra os ditadores e a sua corte de fiéis opressores.
Foram muitos os resistentes que aceitaram o sacrifício da própria liberdade, quando não da própria vida, para que o Povo Português fosse restituído à sua dignidade. Mas poucos, se é que alguns, douraram a sua coragem, e o seu sacrifício, com a desambição pessoal e a modéstia que caracterizaram sempre a luta de Palma Inácio.
Palma Inácio nunca aspirou a outra recompensa que não a reconquista da sua liberdade e da liberdade dos seus concidadãos.
Lutar contra os opressores foi sempre, para ele, uma exigência de alma. Ainda jovem, em 1947, participa, com o Dr. João Soares, pai do Dr. Mário Soares, numa tentativa de derrube do ditador. Esse atrevimento valeu-lhe a prisão, da qual se evadiu mais de um ano depois. Mal soube do assassínio do “General Sem Medo”, procurou o Capitão Henrique Galvão, que preparava, nessa oportunidade, o assalto ao Santa Maria, que tantos engulhos causou ao ditador.
Ficaram nomeadamente célebres o assalto ao Banco de Portugal, na Figueira da Foz, e o desvio de um avião da TAP com o qual sobrevoou a capital e lançou panfletos sobre a residência oficial do ditador.
Outro que fosse, menos humano do que Palma Inácio, e em vez de papéis teria lançado bombas. Ele não! Preferiu bombardear Lisboa de indignação! Palma Inácio foi, nesse acto de desfeiteamento do poder absoluto do ditador, uma vez mais igual a si próprio. A mesma LUAR, organização revolucionária que fundou para não lutar sozinho, viria a revelar não raro semelhantes preocupações de recusa da violência desumana e gratuita.
Quatro vezes preso, por três vezes conseguiu evadir-se.
Abril encontrou-o na prisão. A imagem da sua libertação foi uma das mais expressivas imagens da libertação do próprio Povo Português.
Após Abril, não quis nada. Nem recompensas, nem empregos, nem homenagens. Mário Soares, seu admirador e amigo, quando Presidente, tentou outorgar-lhe a Ordem da Liberdade. Mas, estranhamente, o Conselho da Ordem vetou o seu nome! Quem mais a merecia? Como militante do P.S., recusou todas as atitudes de reconhecimento que lhe foram proporcionadas. Não se tinha batido por nada disso. Viveu o pós-25 de Abril com uma só recompensa: a liberdade e a democracia por que se havia batido.
Foi este ser humano, este resistente, e este socialista que nos deixou.
O PS curva-se reverentemente perante o seu exemplo e a sua memória.
António de Almeida Santos
Presidente do Partido Socialista