Numa cerimónia no Salão Nobre da Assembleia da República, que contou com a presença do atual presidente, Augusto Santos Silva, e do primeiro-ministro e líder socialista, António Costa, juntando deputados, familiares e amigos de Eduardo Ferro Rodrigues, o presidente do Parlamento entre 2015 e 2021 qualificou a ocasião como “um dia de celebração pela democracia e pelo pluralismo”.
Depois de agradecer aos presentes e de recordar o seu trajeto político, Ferro Rodrigues salientou que a democracia, que suscita permanente cuidado e atenção, “é o regime da tolerância e do pluralismo”, mas que não vive, como advertiu, “sem memória”, nem sobrevive “sem a preservação das suas instituições, dos seus valores, dos seus símbolos”.
“Em democracia são normais e desejáveis as divergências ideológicas e as políticas alternativas, mas é justamente porque conhecemos as diferenças políticas que devemos também ser capazes de distinguir essas diferenças daquelas questões estratégicas em que temos que estar juntos e comprometidos com a unidade”, sublinhou.
Na sua intervenção, Ferro Rodrigues reconheceu que “não é fácil combater o discurso simplista antidemocrático”, nem “combater a desinformação, a mentira, o medo”, mas sublinhou que “o pior que podia acontecer às nossas democracias era ver o trabalho de escrutínio que é próprio do Parlamento e das oposições parlamentares ser exercido por poderes fáticos ou inorgânicos”.
Neste contexto, o antigo presidente da Assembleia da República deixou também uma nota sobre os populismos.
“De que falamos quando falamos de populismo? Falamos da exploração dos piores sentimentos humanos, de ultranacionalismo, da xenofobia, das derivas autoritárias, de cada um ver no outro um adversário: nos imigrantes, nas minorias e mesmo nos parlamentos democráticos”, referiu.
Perante estes fenómenos, defendeu que, da parte do sistema democrático, se “exige um maior envolvimento com os cidadãos” e que, “ao nível das desigualdades económicas sociais, a democracia tenha mais capacidade de resposta do que tem tido até agora”.
Ferro Rodrigues alertou, também, que “o défice de transparência na distribuição de cargos ou de honrarias são evidentemente bases muito fortes para o crescimento do populismo e da demagogia, mas são fatores que podem e devem ser combatidos em democracia”.
“A democracia é não só o melhor de todos os sistemas, mas mesmo o único que, ao mesmo tempo, pode defender a dignidade, a paz, o desenvolvimento sustentável e a justiça. Foi para isso que trabalhei. Fiz o que pude, muitas vezes não consegui muito”, disse.
Após a cerimónia de homenagem, os participantes, deslocaram-se até à Galeria dos Presidentes, onde foi descerrado o retrato oficial de Eduardo Ferro Rodrigues, da autoria do pintor Luís Guimarães.