OS PORTUGUESES GOSTAM DE CENTENO
A postura correta do Presidente perante o caso, se assim lhe podemos chamar, só poderia ter sido esta: não faço comentários, porque é da exclusiva competência do primeiro-ministro. Nunca vi António Costa comentar em público uma questão que seja da Presidência da Republica. A razão é simples: tem mais cultura democrática do que o Presidente. A vertente de comentador de Marcelo Rebelo de Sousa, em vez de se diluir no exercício da função presidencial, emerge sempre aqui e ali, o que me parece preocupante.
Num país onde grassam os comentadores, o que é saudável e não criticável, como muita gente diz, não vejo, sinceramente, qual a vantagem de o Presidente também o ser. Será apenas mais um? É evidente que António ou melhor, meia debandada, porque estaria sempre cá e lá – do ministro Mário Centeno para Bruxelas, a fim de presidir ao Eurogrupo, substituindo o holandês dos copos e das mulheres. Seria altamente perniciosa para o nosso país. Mas não é disso que se trata. O problema é que Marcelo extravasa os seus poderes constitucionais e invade as competências dos outros órgãos de soberania, neste caso concreto o Governo. O Presidente não pode estar a imiscuir-se em assuntos que são da esfera governativa, porque não é ele quem governa. O nosso sistema político, por muito que lhe custe, não é presidencialista. Marcelo tem de conviver melhor com o semipresidencialismo e, sobretudo, respeitar as competências dos outros órgãos de soberania. A democracia tem as suas regras.
Além de que, comentar em público um assunto que diz respeito em exclusivo a António Costa, primeiro até do que este, é, no mínimo, falta de solidariedade institucional. Todos sabemos a falta que Mário Centeno faria ao país, se fosse para presidente do Eurogrupo. Ele é, para mim, o melhor ministro do nosso Governo, principal responsável pelo défice de 2,1 e por outros bons resultados, reconhecidos internacionalmente. A perda seria enorme, quase irreparável. Já tinha lido, também no Expresso, que o PS estava preocupado com a possibilidade de Centeno deixar o Governo a seguir à saída de Portugal do Procedimento por Défices Excessivos, que está para breve. Compreendo que deva estar um pouco agastado com o que se passa com a Caixa, só possível devido à baixa política e à falta de nível da oposição, que é especialista em tricas e birras, como disse o primeiro-ministro. Mas não tome a nuvem por Juno. Não confunda a oposição com Portugal e os portugueses. Estes precisam e gostam de si!