Opinião: Os partidos 4.0 são o futuro da democracia
Num mundo em mudança, os partidos também têm de mudar e responder aos novos desafios. Os partidos políticos têm de ter estruturas mais transparentes e colaborativas. Como pode um partido tornar-se 4.0? Desde logo, é preciso mudar o modelo de compromisso e da sua avaliação e tirar daí as devidas consequências.
Dando ouvidos ao que se diz na “rua”, tudo o que corre mal na sociedade ocidental contemporânea é culpa da política e dos políticos. É preciso perceber como foi possível chegar até aqui para agir e inverter esta perigosa dinâmica de erosão da democracia representativa.
Os partidos políticos portadores da memória e dos valores estruturantes da democracia representativa têm de responder aos novos desafios colocados pelas sociedades democráticas, sob pena de se tornarem os bodes expiatórios perfeitos para a onda de populismos e demagogias que ameaçam o mundo.
Têm de inovar e adotar no seu funcionamento as novas ideias, os novos métodos, as novas tecnologias e as novas ferramentas disponíveis para responderem aos anseios dos cidadãos que representam.
O mundo mudou. A comunicação tornou-se instantânea e global. As desigualdades entre os mais ricos e os pobres cresceram. O progresso tecnológico permitiu progressos extraordinários, mas destruiu emprego entre os menos qualificados para as novas competências necessárias. Num mundo em mudança, os partidos também têm de mudar e responder aos novos desafios.
A sociedade do conhecimento evoluiu com a multiplicação da informação disponível e tornou-se potencialmente mais transparente e colaborativa. Os partidos políticos também têm de ser estruturas mais transparentes e colaborativas.
Como pode um partido tornar-se 4.0? Desde logo, é preciso mudar o modelo de compromisso e da sua avaliação e tirar daí as devidas consequências.
No passado faziam sentido os longos contratos programáticos com avaliação periódica. A velocidade da mudança e os fatores incontroláveis e imprevisíveis que marcam o quotidiano das sociedades e das economias abertas tornaram esse modelo obsoleto.
Hoje, os compromissos têm de ser feitos em torno de valores e de visões partilhadas e da garantia/dever de participação efetiva na sua concretização – participação no desenho da decisão e participação na sua concretização.
Um partido 4.0 é uma plataforma de valores sólidos, estruturada em torno da sua memória e duma visão partilhada, robusta nos princípios e flexível nas formas de concretização, com mecanismos de audição e mobilização permanente dos seus militantes e eleitores, trabalhando em rede física apoiada nas novas ferramentas tecnológicas facilitadoras.
O discurso de que os problemas do mundo se polarizam na incapacidade dos partidos e dos políticos também é muitas vezes assumido por pessoas politicamente ativas. Isto significa que ainda não foram integrados num contrato de valores, visão, execução e avaliação permanente.
Enquanto os partidos políticos não se tornarem 4.0, a democracia representativa continuará à mercê dos populistas e dos demagogos. É preciso fazer diferente. Pela minha experiência, a vontade de o PS ser pioneiro nesse caminho em Portugal é genuína e orgulha-me. Mas o desafio é para todos. Em Portugal, na Europa e no mundo.
(in Jornal I)