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OS HUMANOS E OS ROBÔS

OS HUMANOS E OS ROBÔS

A Assembleia da República antecipou-se e lançou o debate sobre o maravilhoso mundo novo da era digital e da robótica. No passado dia 21, as Comissões de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, de Educação e Ciência, de Trabalho e Segurança Social e de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto promoveram uma conferência subordinada ao tema “era digital e robótica, implicações nas sociedades contemporâneas”.

Opinião de:

OS HUMANOS E OS ROBÔS

No profícuo debate com os especialistas convidados, identificaram-se os principais desafios que a inteligência artificial coloca aos humanos, designadamente, questões relacionadas com responsabilidade civil, princípios éticos, implicações sociais, impacto sobre o emprego e proteção da segurança e da privacidade. 

Quem, como eu, assistiu ao aparecimento da televisão a preto e branco, se surpreendeu com as imagens a cores, viveu a juventude e parte da adultícia sem telemóveis, sem computadores e sem internet, é natural que olhe com um misto de deslumbramento e preocupação o novo mundo que o desenvolvimento tecnológico nos oferece. E, perante o anúncio de carros sem condutor, robôs cuidadores de idosos e doentes, robôs rececionistas, robôs a servir bebidas, robôs que fazem limpezas, robôs que fazem entregas, robôs que escrevem noticias, pergunto: qual será o limite?

Quando comecei a escrever em jornais, os meus escritos pareciam um palimpsesto, denunciando as rasuras e as camadas sobrepostas do corretor branco e da tinta preta da velha máquina de escrever. Hoje, o texto, ainda que emendado muitas vezes, sai imaculado.  Durante anos, a minha crónica semanal, no saudoso jornal A Capital, era entregue em mão ao sábado para ser publicada na segunda-feira. Naquele tempo, nem como estrangeirismo o e-mail era conhecido, pelo que os destinatários das mensagens não estavam ao alcance de um clique. 

Na minha qualidade de deputada, na década de 1990, tive a oportunidade de me surpreender com o computador do Banco de Portugal, uma máquina enorme e estranha que ocupava uma sala de grandes dimensões. Há 30 anos, havia uma série televisiva, O Justiceiro, cujo protagonista falava com o seu carro Kitt. Nessa altura, ninguém poderia antecipar que, umas décadas depois, a ficção viraria realidade. E quem, na década de 1990, anteciparia que o pesado telemóvel de 5kg se transformaria numa finíssima peça de design, multifuncional e tão smart, que pode revelar mais sobre a nossa vida que nós próprios? O big brother de Orwell espreita-nos e controla-nos de muitas formas. 

Com a chegada do digital, acreditei que finalmente iria dispor de mais tempo para mim e para o lazer. A experiência ficou muito aquém das expetativas. Não foi por ter tudo ao alcance de um touch que fiquei com mais tempo livre. Talvez por isso, tenho muitas interrogações e poucas certezas. Se os robôs nos tirarem o emprego, qual vai ser a nossa fonte de subsistência? E o que vão fazer os desempregados humanos com o seu tempo livre? Esperemos que os robôs contribuam para a felicidade dos humanos e não para aumentar o consumo de ansiolíticos. 

Certo é que o debate ainda agora começou.