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Os Folares da Páscoa

UMA SUGESTÃO DE VIRGÍLIO NOGUEIRO GOMES*

Fomos educados a comer em sintonia com os períodos cíclicos da Natureza, e também ligados a outras tradições e festividades religiosas. Mesmo os que não estão envolvidos com qualquer tipo de fé, ou doutrinas religiosas, todos gostamos dos seus comeres associados. E que vivam as festas à mesa!

Quem não resiste a um folar de carnes? Segundo os mais velhos, antigamente, apenas se comia folar na Páscoa. Durante a Semana Santa a azáfama enchia todos os fornos padeiros locais para, à vez, cozer os folares que se faziam em cada casa. Hoje em dia tornou-se mais prático adquirir os folares na pastelaria mais próxima, ou na pastelaria que os faz mais ao nosso gosto.

Em Lisboa, temos a sorte de poder adquirir bom folar, durante todo o ano, em casas da especialidade, e algumas delas que são propriedade de ilustres transmontanos, como é a NILDE na rua Morais Soares. Eu confirmo a qualidade sendo um consumidor discreto e fazendo sucesso presenteando outras casas, de outras tradições, mas onde folar sabe bem a todos.

Vejamos: os folares doces ou salgados são feitos a partir de uma massa de pão. O pão que é um elemento estruturante da alimentação, portanto um dos seus elementos base. Depois a junção do ovo. O ovo que faz parte da elite alimentar, o ovo que significa o princípio da vida, o ovo em tempo de Ressurreição ou ainda ovo do Jardim das Delícias de Jerónimo Bosh. Depois vem a junção das carnes. As carnes, a glória das mesas ricas medievais, a carne ansiada para o final do jejum quaresmal, a carne da abundância e tantas vezes associada ao pecado. A Páscoa é assim uma glorificação à mesa. E em Portugal, esta festa de elogio da abastança culinária não podia encerrar-se sem os variados doces que gerações aperfeiçoaram e que deliciam o final das festas! Doces, muitos doces.

A minha sugestão é para que, a partir de elementos simples da nossa alimentação, e que contribuem para a nossa identidade cultural, se melhore a nossa autoestima e defendamos, cada vez mais e melhor, o que é nosso.

*Gastrónomo, autor de Tratado do Petisco e das Grandes Maravilhas da Cozinha Nacional