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Os esponsais

Os esponsais

O PSD/PPD e o CDS/PP resolveram celebrar um contrato de casamento. Nenhuma surpresa. Tal como velhos e recessos noivos, coabitando de há muito, começaram pelas pequenas traições e acabaram na caturrice de querelas domésticas. Nem se espere nenhuma intriga adicional na composição das listas. A matemática de Hondt afastará qualquer obstáculo. E a condenação à nupcialidade é sentida como o menor dos males. Cada um deles perderia muito, se o casamento se não consumasse. O PSD nunca aspiraria a aproximar-se de um resultado honroso, condenado ao que teve nas eleições para a Constitutinte, seu eleitorado natural. O CDS aspira justamente ao resultado da Constituinte, já que sem o PSD seria traído pelas suas próprias traições. Por enquanto foi apenas ratificado o casamento, mas ninguém duvida da consumação.
Os esponsais

A cerimónia deve ter sido semelhante à daqueles esponsais reais da idade média, em que o noivo tinha 22 anos e a noiva 7, ou em que o noivo tinha 50, sem filhos varões e a noiva 14. Tamanha desigualdade dificilmente dará para esperar até à nubilidade da noiva, pois o tempo pode ser fatal, levar à impotência do noivo. Muitas incertezas, portanto. Até mesmo a do desquite previsível logo após a consumação, se nela ocorrer frigidez da noiva ou inibição do noivo. Cada um deles pode desejar liberdade imediata para novo casamento ou pelo menos união de facto. Pode até ocorrer que o noivo, frustando o reino, seja desterrado para uma prisão, como D. Afonso VI, sendo a consorte recuperada pelo sucessor. A história repete-se vezes sem conta.

Dir-se-á que um casamento é dia de alegria. Não parece, pois não houve nem flor de laranjeira, garantindo virgindade, nem bênção de arroz, prenunciando fertilidade. Este casamento ainda não foi “in articulo mortis”, os noivos estão vivos, vocais e activos. Ainda prontos para a disputa doméstica e para a consequente conciliação. O Povo não acorreu ao adro da igreja, também nada havia para distribuir. Mas parentes e amigos estarão à espera dos noivos, daqui a cinco meses, exigindo contas se o dote for desbaratado. Espera-se que o príncipe não fuja a cavalo, na noite da derrota.

António Correia de Campos