Os Desafios do Digital na Cultura (2)
Revolucionaram a capacidade de difundir, preservar, criar, transfigurar, cruzar linguagens, multiplicar, replicar, reduzir custos, facilitar acesso, mas também banalizar e, até, perverter.
Vivemos rodeados de um universo de máquinas que nos controlam a vida e sem as quais já quase não sabemos viver. Essa rede de aparelhos está ligada entre si via web, são smart, e incluem desde as TV aos telefones, tablets, navegadores do automóvel, frigorífico (que nos pode dizer quais os alimentos que estão em falta ou a acabar o prazo de validade), relógios de pulso (que informam sobre dados vitais e os últimos SMS), etc.
Trata-se de uma plêiade de artifícios, louvada e promovida como promessa permanente de informação, felicidade e prazer. O tempo que nos poupa, a atenção e esforço que deixamos de dispensar a determinadas tarefas é usado em…mais informação digital.
A quantidade de informação digital duplica no mundo em cada 3 anos. Em 2013, era, por pessoa, no planeta, 320 vezes superior à da Biblioteca da Alexandria. Importa refletir sobre as consequências do excesso de informação que resulta desta avalanche informativa. No excesso, vêm também os riscos da desinformação, a informação não editada, informação de fontes não credíveis, não certificadas.
O chamado “para-jornalismo” (muita gente nem se dá ao trabalho de ler notícias on-line. Basta-lhe a retransmissão, editada por quem retransmite, de informação via Facebook, Twitter e outras redes sociais e “quem conta um conto, acrescenta um ponto”) tem consequências no jornalismo: o periodismo baixa a fasquia para atrair leitores. Até na imprensa de referência o abaixamento de qualidade é um facto difícil de negar. Será o preço a pagar pelas vantagens da ligação virtual ao mundo? Sim. E, apesar de tudo, pagamos com gosto.
Na verdade, as tecnologias digitais de informação e da web tornaram-se num dos principais motores da economia mundial do século XXI e o conhecimento – o seu produto transacionável – estabeleceu-se como a nova matéria prima do século.
Esta é, de facto, uma janela de oportunidade para a cultura e para o conhecimento.
Mas como todas as janelas, tem que ser bem consolidada, ser de fácil acesso, livre, arejada e regulada por princípios e valores universais.