Orçamento do Estado foi aprovado sem desvirtuamentos
“Se nós excetuarmos dois ou três casos de propostas aprovadas, que representam um maior desvio àquilo que o Governo pretendia, a verdade é que este Orçamento foi aprovado sem desvirtuamentos que o pusessem em causa”, apontou Carlos César, que falava no programa semanal da rádio TSF ‘Almoços Grátis’.
“Evidentemente que estamos num período mais complexo onde a natureza das medidas a tomar não é a natureza preliminar e mais básica daquelas que foram necessárias tomar no período imediatamente depois do Governo do PSD e do CDS e por isso exige um diálogo com maior maturidade e com maior seleção do ponto de vista político” entre os partidos da esquerda.
“Em boa verdade, nós não negamos que este relacionamento agora apresenta maiores complexidades e maiores dificuldades” comparando com o último Governo do PS, em que havia um acordo escrito com a esquerda, “mas continuamos a afirmá-lo como prioridade do ponto de vista do nosso relacionamento e que ficou, aliás, expresso nas votações que ocorreram” no Orçamento, assegurou Carlos César.
Já sobre o desempenho dos social-democratas na discussão do Orçamento do Estado para 2020, Carlos César considerou que uma das características do PSD dirigido por Rui Rio é uma “geometria variável, porque tanto é capaz de fazer uma geringonça à esquerda, que tanto critica, para dar cabo das contas do Orçamento ou para fazer episódios como estes do IVA ou recomendações espúrias, como pede a mão ao Partido Socialista para fazer reformas estruturais sobre as quais, de resto, não produzam conteúdo explícito, ou até para insultar num dia o CDS e pedir namoro ao CDS no dia seguinte”.
PSD “tombará à direita” à procura de aliados
O dirigente socialista antecipou, também, que o PSD “está fadado para tombar à direita, à procura de um aliado, que é o CDS, que se chegou ainda mais para lá da direita” com a nova liderança, e lamentou que os social-democratas continuem a seguir uma conduta “errática e imprevisível”.
Comentando o Congresso do PSD, que aconteceu no último fim de semana em Viana do Castelo, o dirigente socialista disse que este “era muito importante para a atual liderança” do partido, “porque sucedia um período de dissonâncias muito visíveis e muito profundas do ponto de vista interno e também logo a seguir a um debate orçamental, em que o PSD, justamente liderado por Rui Rio, teve um desempenho que deixou muito a desejar e que correu muito mal”.
“É claro que o PSD não sai deste congresso absolutamente unido”, mas “sairá menos desunido do que estava antes”, frisou.
Carlos César disse depois que a reincidência do PSD “numa conduta que é muito errática e imprevisível”, que certamente “se prolongará com a atual liderança”, não beneficia o partido: “Hoje é uma coisa, amanhã é outra sobre os mais variados temas e os mais variados momentos”.
“Quando nós deixamos de ter uma intuição razoável sobre o que cada partido pensa ou sobre aquilo que cada partido provavelmente fará em matérias importantes, é porque algo de gratuito, algo de fortuito, algo de ocasional ou até de perverso está a alimentar a conduta desse partido, e sobretudo quando isso acontece com um partido com enraizamento histórico e conhecido e com uma dimensão representativa significativa”, alertou.
O presidente do PS asseverou que “a democracia portuguesa perde propriedades quando os seus principais atores agem em prejuízo de convicções estruturais e decidem em função de conveniências próprias ou de tentações populistas”. “O que me parece é que o PSD demonstrou uma vez mais que está muito premiável nesses sentidos”, criticou.
Quanto ao discurso de Rui Rio no Congresso do PSD, “não foi especialmente auspicioso do ponto de vista da tranquilização daqueles que pensariam que o PSD tinha uma proposta inovadora e que poderia trazer luz num outro caminho alternativo ao do atual Governo. É claro que houve piscar de olhos ao CDS”, notou Carlos César, que garantiu que “o PSD está fadado para tombar à direita à procura de um aliado”, num “movimento pendular”, obrigando o PSD a deslocar-se “no sentido de ficar mais próximo dos seus aliados”.
Tal não apoquenta o PS, “porque a grande vocação do Partido Socialista é de ser um partido de centro-esquerda, de nessa posição ter um diálogo preferencial com os partidos à esquerda e também constituir um fator de moderação da ideia da esquerda no nosso país”, afiançou.
Já o PSD, “reclamando-se do centro, acaba por ser o cabeça de série da direita portuguesa, porque é justamente com os partidos da direita que pretende ter um diálogo preferencial e é só com os partidos da direita que pode vir a ser Governo ou que ambiciona ser Governo”, atacou Carlos César.
“Independentemente das roupagens, independentemente da cenografia que se constrói num congresso para efeitos de consumo público, a verdade é que este PSD sabe que só terá possibilidades de constituir uma alternativa com possibilidades de sucesso se for capaz de agrupar toda a direita. Ora, não se agrupa toda a direita virando à esquerda, e, portanto, o PSD tombará à direita”, acrescentou.
Oiça aqui o programa de hoje, em que também se discutiu a eutanásia.