Opinião: UE: um projeto descartável?
É fundamental uma outra política para a Europa. A solução pode passar pelo diálogo estruturado entre a Comissão e o Parlamento Europeu sobre os fundos e a governação económica.
Incapacidade de lidar com os refugiados, brechas na segurança e defesa, estagnação económica, fragilidade do sistema bancário, incumprimento das regras do Estado de direito, Brexit, erosão e elisão fiscal, asfixia orçamental: eis, de forma breve e sintética, o retrato atual da União Europeia (UE). Um retrato perturbador que exige ação política determinada.
Os mandatos do Parlamento Europeu e da Comissão Europeia têm cinco anos e estão a atingir o seu ponto intermédio. Este ponto é, por tradição, um momento de balanço e reajustamento. Se o processo for frouxo e os equilíbrios levarem a UE a prosseguir no mesmo caminho, o projeto europeu tornar-se-á rapidamente descartável.
Se os líderes europeus quiserem manter o poder à custa da diabolização do quadro que ajudaram a constituir, poderão ter sucessos fugazes, mas destruirão um projeto de paz, tolerância e afirmação geoestratégica laboriosamente construído nas últimas décadas.
É fundamental colocar todo o empenho numa outra política. Num despertar da consciência de que a solução para a UE é uma abordagem holística em que as soluções de uns problemas são parte da solução de outros problemas.
Um exemplo do modelo de solução em cadeia poderá ser o diálogo estruturado entre a Comissão e o Parlamento Europeu sobre os fundos de coesão e a governação económica.
Seria iníquo ousar sequer voltar ao tema das penalizações, a não ser para o encerrar de vez e com estrondo.
Mas o diálogo entre a Comissão Europeia e o Parlamento Europeu constitui uma oportunidade de ouro para refletir globalmente sobre o Orçamento da UE e sobre as suas insuficiências. Uma oportunidade para constatar que só uma UE com mais recursos próprios e outro modelo de governação económica poderá ultrapassar as dificuldades e preparar-se para o futuro que se anuncia.
Estamos a viver uma revolução tecnológica brutal. As energias renováveis são, hoje, já competitivas no mercado com as energias tradicionais. A nova geração digital anuncia o seu apogeu para o final da década, transformando modelos de comunicação e de produção de bens e serviços. A energia e a informação combinadas anunciam um mundo novo.
E a União Europeia? Resolve os seus problemas de forma holística e prepara-se para disputar a liderança nos novos patamares da competitividade global ou entra nos novos tempos emaranhada em contradições que, abordadas uma a uma, são labirintos insolúveis? Será relevante ou descartável?
Muitos dizem que o statu quo nas políticas não muda porque favorece a Alemanha em detrimento dos países mais pequenos e periféricos. Esta análise simplista já não resiste a uma análise fina. Também a Alemanha será arrastada num eventual descarte estrutural do projeto europeu.
O estado da União projeta sombras negras para todos os membros da UE. É preciso colocar a luz da esperança e da mudança onde predominam as nuvens do egoísmo e da indefinição.
Fazer isto aproveitando o balanço intermédio do mandato das principais instituições é um dever e uma oportunidade que não deve ser desperdiçada.