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Opinião: Não sejas demasiado feminista

Opinião: Não sejas demasiado feminista

(Artigo de opinião escrito originalmente para o Expresso)

Isabel Moreira 

 

Não sejas demasiado feminista

Limita-te a afirmar que és a favor da igualdade. Não desenvolvas. Não concretizes. Não percas tempo a agonizar o status quo com temas específicos. Não fales muito tempo sobre cada aspeto do patriarcado. Não te demores. Não canses. Não te revoltes perante episódios específicos de sexismo ou de misoginia, a menos que alguém tenha morrido. Por menos do que isso, é histeria.

Queres ser popular?

Cala-te.

Não tentes ter poder. Há sempre quem pense que o teu lugar é em casa. Isto é antidemocrático? Paciência, já sabes que ser mulher, estar no poder e ser popular é sinónimo de mau trabalho. Não consegues. Não conseguimos.

Não sejas demasiado feminista. Se o preconceito generalizado leva a que de olhos fechados toda a gente associe imediatamente os cargos mais importantes da governação (ou mesmo a chefia de uma bancada parlamentar) a um homem, quem és tu para opinares? Quem és tu para opinares sobre assédio sexual, duplos padrões de valorização moral, linguagem inclusiva, o papel da comunicação social ou da ficção na perpetuação dos estereótipos de género ou sobre o lugar da mulher na sociedade?

Está tudo ligado? Está, mas não interessa, não sejas demasiado feminista. Afinal, são tantos os painéis exclusivamente compostos por homens que as nossas filhas continuam a receber a mensagem do tal equilíbrio na reclamação e, já agora, os nossos filhos estão prontos para continuar a festa.

Não fales muito alto.

Não te esqueças que a Thatcher recebeu aulas de voz para que falasse em tom mais grave. Há qualquer coisa no nosso ADN cultural (não, não é biológico) que leva mais a sério as vozes masculinas.

Que fazer? Combater isso? Nem pensar. Isso é histeria. Toca a fazer voz grave.

Até porque se cometeres um erro, não tens perdão. Isso é para a outra metade da população.

Temos de nos resignar.

Não sejas demasiado feminista. Ainda te arriscas a contribuir, num “desejo descontrolado e totalitário” para um “mundo profundamente discriminatório”, como escrevia o cronista ávido de tropeções na luta pela igualdade.

É. Este mundo está muito difícil para os homens heterossexuais brancos com poder.

Caladinhas, mulheres.