Opinião: INE ataca Diabo
Previsões há muitas, resultados só contam os do INE. Enquanto a Direita, incluindo a instalada em certas instituições, insiste em apostar tudo no Diabo, o INE tratou de fazer as contas e, como lhe compete, revelou esta semana a verdade sobre a situação orçamental. Acontece que a verdade apurada pela autoridade estatística não é nada boa para o Diabo: contas feitas, o défice no primeiro semestre deste ano caiu para 2,8%, nada mais, nada menos do que o valor semestral mais baixo dos últimos oito anos! Dito de outra forma: é preciso recuar ao longínquo ano de 2008, quando Portugal ainda era governado por outro Governo socialista, para encontrar um resultado tão bom como o conseguido agora pelo Governo de António Costa com o apoio das esquerdas.
A importância deste resultado é ainda mais evidente se atentarmos na comparação com os resultados do semestre homólogo do ano passado, obtidos ainda na vigência do Governo PSD/CDS. Segundo os dados do INE, o défice agora alcançado de 2,8% compara com os 4,6% obtidos pelo Governo da Direita, ou seja, de um ano para o outro o atual Governo conseguiu uma redução de 1,8 p.p. no valor do défice. Este facto, só por si, dá que pensar. E a conclusão mais óbvia é esta: era absolutamente falsa a narrativa da Direita que nos garantia que o empobrecimento era a única via possível para ter contas públicas equilibradas e reduzir o défice. Afinal, provou-se exatamente o contrário: mesmo cumprindo a Constituição, pagando os salários cortados aos funcionários públicos, pagando as pensões cortadas aos reformados e pagando as prestações cortadas aos mais pobres, o défice baixou! A moral desta história é bastante evidente para quem a queira entender: é possível virar a página da austeridade e reduzir o défice.
Acresce que esta boa execução orçamental, cada vez mais reconhecida, reforça a cada dia que passa a perspetiva de uma coisa nunca vista: um défice no final do ano muito abaixo dos míticos 3% e talvez mesmo inferior aos 2,5% pretendidos por Bruxelas. Até o próprio Conselho das Finanças Públicas, insuspeito de simpatia pela política do Governo, e mesmo sem considerar alguns dados favoráveis, já estima que o défice possa ficar nuns fantásticos 2,6%. Podia até ter dito a mesma coisa de outra maneira: o Governo socialista, com apoio parlamentar das esquerdas, mesmo rompendo com a política de austeridade, está à beira de conseguir o défice mais baixo de toda a história da democracia portuguesa! Se o Conselho das Finanças Públicas não o disse, não foi por não ser verdade. Foi apenas porque não podia dizer a verdade toda e ao mesmo tempo manter a afirmação de que a política do Governo falhou.
(in Jornal de Notícias)