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Onde pára a retórica?

Onde pára a retórica?

Tenho saudades do tempo em que o parlamento era espaço e tempo de debate profundo, de inquietação epistemológica, de guerra entre argumentos inventados só para contrariar.

Opinião de:

Cumprir a esperança - 2016 em revista

Esse parlamento, dotado de História e da Filosofia, consciente da obrigação de segurar, com estacaria pombalina, os conceitos astrológicos que nos trazem até aqui, os olhares da psico que nos agarram à coisa política de que nem a metadona nos liberta. 

Uma das mais irritantes características do tempo parlamentar de hoje é a falta de genuinidade da intervenção, o mimetismo discursivo composto por elementos tecnocráticos que o pensamento único nos obriga a incorporar. Faltam os sinais perfeitos da retórica, faltam os atributos conscientes dos sofistas, faltam até os cruzados conceitos que os silogismos ainda usam. 

O Diogo Leão, ilustre deputado e capaz investigador das ciências sociais, dizia-me, nas jornadas parlamentares ultimas, que falta pensamento e sobra seguidismo. Sei bem o que ele queria dizer. Os partidos sempre tiveram uma base corrente de seguidismo. É, aliás, esse um dos componentes da coregrafia política, da encenação que cada tempo e cada regime nos concedem. Mas o seguidismo, o rebanho, sempre foram limitados e agora parecem querer ser avassaladores. 

Há muito que reivindicamos uma presença da História e da Filosofia nos currículos educativos do básico ao superior. Trata-se se preparar cidadãos mais capazes e mais hábeis, melhores vendedores e maiores governantes. Os países que se olham ao espelho no tempo passado, as famílias que desinquietam as suas crianças para o confronto grave das ideias consagram um futuro mais risonho e mais capaz de encarar, vencendo-os, os mais recentes amigos do populismo. Enfrentar os novos “trumpismos” só se faz com mais humanidades. Importa reinventar o pensamento, interessa, por isso, regressar às humanidades.