O NOVO ANO
O novo ano, que dá agora o primeiro passo, deverá ser sem sobressaltos, confirmando o clima de tranquilidade que se vive, atualmente, no país e que o primeiro-ministro tem realçado. A estabilidade política e a paz social vão andar de mãos dadas e a que se juntará, muito provavelmente, a harmonia institucional entre António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa. Questões como as leis laborais, a dívida, a banca e até a eutanásia, que alguns consideram fraturantes, não me parecem suscetíveis de criar grandes divisões na maioria de esquerda, que saberá ultrapassar as divergências. O ano de 2017 será de reafirmação do acordo de esquerda. Tenho dito que os portugueses não gostariam de voltar a ser roubados e a prová-lo está a mais recente intervenção de Passos Coelho, quando afirma que é preciso fazer o enterro das reversões. Passos não o disse, mas nem precisaria de o dizer, porque está implícito na sua afirmação – só gosta de tirar, dar não é com ele.
O marco mais importante do novo ano será, sem dúvida, a corrida autárquica, prevista para depois do Verão, não por trazer mudanças de Governo – a vitória do PS parece certa, o que exclui leituras nacionais -, mas por se tratar de eleições, que os democratas consideram ser a festa da democracia. E sobretudo por se tratar do poder local, cujo papel incontornável, na defesa das populações e na melhoria da sua qualidade de vida, ninguém ousará por em causa. Mas 2017 começou, em termos políticos, claro, com a mensagem de Ano Novo do Presidente da República. Houve dois aspetos em que Marcelo me pareceu não andar bem – o resto merece genericamente o meu aplauso, embora ache que seja um chavão dizer que a Justiça é lenta. O primeiro foi quando pediu a Costa uma gestão a prazo e não preocupação pelo imediato. Se conhecesse, como devia, os objetivos estratégicos do PS, e o seu timing, não teria feito o reparo.
A Agenda para a Década, como o próprio nome indica, é para dez anos. O próprio primeiro-ministro já disse que o cumprimento do programa do Governo e o Plano Nacional de Reformas, que são a carta de navegação, requerem mais de um mandato. Não se pode, assim, pedir que se faça num ano o que é para oito ou dez! Nem dizer, o que é ainda uma asneira maior, que não há gestão a prazo. O segundo aspeto da mensagem de Marcelo, que penso ser criticável, foi a sua afirmação de que a economia tem de crescer mais, muito mais. É uma pretensão utópica. Com o clima de incerteza que há a nível mundial, que faz os agentes económicos retraírem-se, clima esse agravado pela vitória de Trump, e pelas eleições em França e na Alemanha, muito bom seria que a previsão de 1,5 do Governo fosse alcançada. Guterres formulou votos para que 2017 seja um ano de paz. Mas que Marine Le Penn e Merkel sejam derrotadas.