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O mestre da simulação

O mestre da simulação

O silêncio dos líderes do PSD e do CDS-PP sobre o corte dos 600 milhões de euros nas pensões, que aprovaram na Assembleia da República e com que se comprometeram perante as instituições europeias, é verdadeiramente revelador. É mesmo o silêncio mais ensurdecedor da política portuguesa. A ausência dessa medida das linhas programáticas com que a coligação da direita se vai apresentar às eleições é, não há que ter grandes receios das palavras, uma fraude política.
O mestre da simulação

O líder do PSD e ainda primeiro-ministro, que durante meses e meses se andou a queixar da ausência de medidas propostas pelo Partido Socialista, o que agora já não pode voltar a repetir, não podia ter sido mais claro há alguns dias: a coligação nem sequer precisa de apresentar as medidas que propõe, porque os portugueses sabem com o que podem contar da sua parte. Prosseguir a mesma política, a política que Passos Coelho gosta de considerar de “final feliz”, num notável exemplo da sua absoluta descolagem da realidade.

Um exercício que se recomenda a qualquer cidadão é fazer uma breve busca na Internet sobre algumas das declarações do candidato a primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, em 2011. É muito elucidativo, mesmo. Desde a célebre tirada do dia 1 de abril de 2011, o que torna tudo ainda mais sugestivo, diante de duas jovens estudantes que o interrogavam sobre a possibilidade de cortes no subsídio de férias e no décimo terceiro mês. “Nunca falámos nisso e isso é um disparate!”, remata o líder do PSD. Já no dia 30 de abril, discursando solenemente numa iniciativa sob o lema “Mais Sociedade”, Pedro Passos Coelho é perene: “Posso garantir-vos: não será necessário, em Portugal, cortar mais salários (…) para cumprir um programa de saneamento financeiro no Estado português.” Sobre as propostas fiscais do PSD – em 2011, claro… – esta viagem na Net até pode provocar sorrisos, não fosse ela verdadeiramente lamentável, com a defesa intransigente de uma política fiscal ao serviço do crescimento da economia e do emprego, recusando qualquer subida nos impostos sobre os rendimentos, defendendo que a receita fiscal deve subir por via do aumento do consumo. Verdadeiramente extraordinário.

Ontem, como hoje, os portugueses sabem com o que podem contar por parte da direita e de Pedro Passos Coelho, esse verdadeiro mestre da simulação. Finta para um lado e segue para o outro.

Duarte Moral