O melhor ou o pior dos tempos?
Dickens escrevia sobre o mundo em mudança radical, após as revoluções norte-americanas e francesa. Certamente, nos nossos dias, a política e com ela a economia e a sociedade não estão a alterar-se ao ritmo que acontecia no país em industrialização do final do século XVIII. Até porque tendemos sempre a sobrevalorizar a mudança que ocorre no período em que vivemos.
Ainda assim, há demasiados sinais que vivemos, no mundo ocidental, um tempo político novo: as clivagens políticas acentuam-se e cristalizam-se; os sistemas partidários como os conhecemos transformam-se e fragmentam-se; as economias são incapazes de gerar riqueza adequada. Não é preciso pensarmos no que se está a passar na política norte-americana por estes dias para termos bem o retrato de um sistema em declínio e assolado por uma crise de legitimidade (veja-se a polémica destes dias envolvendo Maria Luís Albuquerque). Nos Estados Unidos da América podemos estar, apenas, perante um indicador avançado ou uma versão extrema do que pode bem chegar (ou já chegou) à Europa.
Não por acaso, cada vez mais, no espaço público, o que os cidadãos parecem procurar é reforço e não pluralismo. A afirmação das ideias dos seus e não o confronto democrático de alternativas.
Qual o papel da imprensa partidária neste contexto? Limitar-se a reforçar convicções e ideias? Como é que num mundo em que as clivagens políticas se cristalizam será possível promover a cultura de compromisso?
Não há resposta fácil e a tarefa é hercúlea. Uma parte significativa da solução passará, como é evidente, pelo crescimento económico – logo pela capacidade da coisa pública readquirir autonomia face à crescente complexidade do mundo financeiro (o caso dos swaps aí está para o demonstrar) – mas, não menos relevante, é necessário que o debate público se centre, cada vez mais, em informação e conhecimento e menos em mitos ou ideias feitas, distantes da realidade.
É esse o papel que deve também ser assumido pela imprensa partidária. Combinar informação com uma mundovisão particular que permita formar cidadãos politicamente engajados, mas capazes de aceitar que, sem pluralismo e debate público aberto, a democracia não se regenera. Cabe a todos nós decidir se este será o melhor ou o pior dos tempos.