O doente e o seu dia mundial – Opinião Maria Antónia Almeida Santos
O Dia Mundial do Doente é uma data que convoca ao auxílio e à solidariedade, sem olhar aos princípios que regem a vida de cada um.
É um momento de consciencialização global que apela, junto da sociedade civil como todo agregador, à sensibilização para a necessidade de apoiar quem sofre por doença. E faz todo o sentido, nos dias que estamos a viver, apelar à solidariedade e à esperança. Para além deste, hoje, há outro apelo que a pandemia não pode adiar: a reflexão sobre o acesso aos cuidados de saúde e o seu robustecimento.
A pandemia é um tsunami que evidencia todos os dias a importância de colocar o doente no centro do universo da saúde. É cada vez mais claro que é vital melhorar de modo continuado a experiência do cidadão nos serviços de saúde. Só o faremos com um upgrade contínuo no acesso aos cuidados de saúde e com estruturas orientadas para o doente, em linha com as recomendações da OMS.
A Carta dos Direitos de Acesso aos Cuidados de Saúde pelos Utentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS) constituiu um marco e é importante tê-la presente nos dias difíceis que temos tido. A Carta determinou pressupostos como a prestação de cuidados em tempo clinicamente aceitável para a condição de saúde e o registo imediato em sistema de informação de pedido de atos médicos, dando contornos ao cumprimento dos tempos máximos de resposta garantidos. Para continuarmos nesse sentido, é preciso ir além da barreira ideológica. Precisamos de um diálogo capaz, salutar e sem saudades do assistencialismo. Só um consenso alargado e virado para o futuro sobre investimento, inovação e sustentabilidade em saúde permitirá entender os utentes e doentes como mais que um número.
Esta tem sido a luta do Partido Socialista. A atualidade do legado de pensadores como António Arnaut, que no seu “Étimo Perdido”, já afirmava que “não é justo que a saúde seja um privilégio de quem a pode pagar, e não um direito de todos”, é inegável. O mundo exige uma saúde que, sendo reativa, seja cada vez mais preventiva em relação à doença e ao mesmo tempo solidária e apta ao diálogo com a inovação, as exigências ambientais e sem medo das questões bioéticas.
Limitados no contacto e nos afetos, temos aprendido como, pela prevenção, a saúde dos outros está também em nós. Traduzir essa consciência na qualificação contínua do acesso aos cuidados de saúde é a melhor forma de homenagear quem sofre e quem cuida.