O Desafio do Digital na Cultura (3)
Nas Artes, no Livro, nos Arquivos, nos Museus, a produção e difusão culturais têm aqui uma possibilidade expansionista extraordinária. Ou será, como alguns afirmam, que ficam reféns de uma tipologia de consumidores, que a redefinem?
Será uma janela de oportunidade para as artes, ou antes uma armadilha, porque encurralam a criatividade para a categoria de “produto” (em linguagem económica) em vez de manterem a categoria de criação (em linguagem artística)?
Neste confronto de posições, debate-se a ideia de que a aliança entre indústria, a cultura e arte, comporta uma ameaça à autonomia da criação. É a “alta cultura” versus a “baixa cultura”; a arte disseminada versus a arte não negociada ao gosto das massas.
Onde fica a democratização da cultura neste debate? Levantar questões é tão importante quanto dar as respostas.
Na área do Livro e apesar de todas as ameaças, o livro editado em papel não morreu, mas ganhou uma nova diferença.
Onde o livro impresso faz prevalecer o legível sobre o visível, o livro digital convoca os leitores para uma reinvenção cognitiva aberta a outros modos de transmissão da mensagem.
Na verdade, no confronto entre o livro impresso e o livro digital, só há vencedores. O “texto fechado” versus o “texto aberto”, (em interface manipulável, permeável e hiperligações, versátil na sua relação com os leitores) apenas acrescenta oferta num campo onde todos saem ganhadores: os leitores, os consumidores de cultura, os autores, os criativos, e ainda as próximas gerações que irão receberem de herança um espólio cultural incrivelmente mais vasto, mais bem preservado, melhor acondicionado, provavelmente sem barreiras de língua, e interligado com o mundo via web.
No que respeita à preservação, inventariação e catalogação de espólios de património cultural e de meios de diagnóstico para restauro, os meios tecnológicos digitais são hoje extraordinariamente competentes e um auxiliar imprescindível para uma gestão patrimonial eficaz.
Importa, pois, saber o que fazer com todo este potencial imenso de memória, de saber. Só deixa de ser potencial e passa a ser real quando atinge o seu objetivo: ser usado, fruído, consultado, lido, comtemplado, assimilado por milhões de pessoas em todo o mundo.
É preciso saber tirar partido dele, ampliando as suas redes de interconexões, cruzando-o com outros acervos e assim multiplicando o seu peso cultural, económico e político.