O Desafio do Digital na Cultura (1)
Hoje não podemos entender a literacia sem a entender no sentido global – e ela implica, naturalmente, a literacia digital, a literacia informática, a literacia da Web, a literacia da Informação.
Esta alfabetização digital para a e-literacia obriga a uma atenção especial das politicas educativas para uma Educação para os Media, atribuindo-lhe o peso e a importância que os media têm na vida das pessoas nas suas múltiplas plataformas comunicacionais, que hoje, como sabemos, substituem na maior parte das vezes o papel personalizado das relações interpessoais.
É certo que os jovens, em particular as crianças, lidam com a comunicação digital como se fosse uma língua nova – assimilam-na sem qualquer dificuldade, parece que já nasceram com os polegares em riste. Mas não é disso que falo; refiro-me aos desafios que advêm da perceção do mundo através da máquina; da solidão na descoberta; do bloqueio no impulso natural da comunicação direta entre corpos, do rompimento da socialização.
Na designação feliz de José Luís Garcia (no livro Cultura Digital em Portugal, edições Afrontamento), o “Homo Conexus”, o indivíduo que vive on-line, o estarmos “sós, juntos” ou as “solidões interativas” são uma prática social das comunidades info-evoluídas cada vez mais comum. É o comportamento cultural mais espectável nas gerações mais novas.
A gigantesca abertura ao mundo que nos trouxe a net, a digitalização da informação, as redes sociais onde se tem milhares de seguidores e de amigos, têm também reduzido, de forma gritante, a interação direta entre os jovens, entre as pessoas. Por isso, a Educação para os Media deve ser uma prioridade e ser uma disciplina de conteúdo cívico, filosófico e humanístico.
No entanto, a boa conjugação da aposta nas qualificações com o desenvolvimento da banda larga, com a promoção do acesso de computadores em rede a professores, estudantes e adultos em requalificação, é indispensável, e é a única forma de combater aquilo a que Carlos Zorrinho chamou a “fratura digital”, em muitos sentidos ainda uma fratura geracional ou ainda, apesar de menor, uma fratura social.
Se muitos ou todos tiverem acesso ao meio, dessa forma reforça-se a coesão cultural.
Porque falamos de Democratização da Cultura. É disso que falamos quando nos referimos a Cibercultura. É nesse sentido que me interessa este tema e é por isso que o considero da maior importância para a sociedade contemporânea.