O CAMARADA MÁRIO SOARES
Talvez no Acção Socialista Digital se justifique falar sobre o Mário Soares nosso camarada, socialista que sempre acompanhou atento e interessado os altos e baixos da vida do nosso partido, partido que fundou e de que nunca se desligou, morrendo como o seu militante número 1. Curiosamente, o militante número 1 é agora o nosso camarada António Campos, seu amigo e companheiro, a quem todos os dias ligava para falar de política e do mais que houvesse. Cada Secretário-Geral, quando deixou de o ser, manteve com o partido a relação que melhor se coadunava com a sua particular maneira de ser, as pessoas não sendo, evidentemente, todas iguais. Mário Soares distingue-se de todos. Acompanhou intensamente a vida do partido, tudo discutindo, com todos conversando, sobre tudo tendo sempre uma opinião comprometida. Até ao fim. Tinha orgulho no partido socialista, na sua gente, que tratava com gosto por camaradas, sem falsidade nem cálculo, eram afinal aqueles que mantinham vivo o ideário socialista e republicano que era o seu. Com os mais novos queria perceber o que os trazia ao socialismo democrático, gente nascida em democracia, ou mesmo já depois da queda do muro. Nada lhe dava mais prazer – muito mal disfarçado – que encontrar jovens, rapazes e raparigas, inteligentes, articulados e socialistas. Os mais velhos eram companheiros de combates hoje quase esquecidos, testemunhas de um tempo difícil de coragem e incerteza.
Quando fui secretário nacional para as relações internacionais, entendi pendurar na parede do gabinete uma fotografia antiga do nosso fundador. Vasculhei o Rato e não encontrei nenhuma, as poucas que havia ninguém queria – e bem – prescindir delas nas suas paredes. Fui atormentar a Osita e a Catarina Martins e, a dada altura, já ninguém me podia ouvir com a história da fotografia. Por fim lá apareceu a dita. Divertido com a novela da fotografia, o fotografado, em mais um dos seus repentes, decidiu que queria ir ao Rato passar em revista fotografia e gabinete. Fomos em romaria. As escadas custaram a subir. Mas a visita não a esquecerei nunca. “Olá camarada!” disparava todo satisfeito em todas as direções. Revistou os cantos à casa, gostou dos salões recuperados, ficou contente com o retrato do Leonel Moura. Não tenho a certeza se fomos espreitar o jardim. Foi a última vez que visitou a nossa casa. Que era a dele.