Mário Soares
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Resistência e combate pela Liberdade
Das candidaturas presidenciais de Norton de Matos e Humberto Delgado, onde foi figura ativa, à defesa de presos políticos nos tristemente célebres tribunais plenários e nas mais diversas modalidades da oposição democrática, Soares foi sempre um adversário temido e temível pelo salazarismo e marcelismo, o que lhe custou a prisão, a deportação para São Tomé e, mais tarde, o exílio em França, entre 1970 e Abril de 1974. Logo depois do 25 de Abril, embarcou no primeiro comboio com destino a Lisboa, que ficou conhecido como o Comboio da Liberdade, que chegou à capital portuguesa no dia 28 de Abril, sendo um dos primeiros exilados políticos a regressar a Portugal, na sequência da conquista da Liberdade.
Garante da Democracia
Ministro dos Negócios Estrangeiros do I Governo Provisório, Mário Soares protagonizou ao longo do período revolucionário que se seguiu ao 25 de Abril várias batalhas contra todas as tentativas totalitárias, constituindo-se, novamente, no maior garante da Democracia recém- adquirida, peça essencial no seu reconhecimento internacional.
Levou o Partido Socialista a grandes vitórias nas eleições para a Assembleia Constituinte e, depois da aprovação da Constituição, em Abril, nas primeiras eleições legislativas, em 1976. Mário Soares viria a ser o primeiro-ministro dos dois primeiros Governos constitucionais e voltaria a sê-lo no IX Governo, entre 1983 e 1985.
Integração europeia
É a Mário Soares que se deve também a afirmação da vocação europeia de Portugal. Foi dele o impulso para o pedido de adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia, formalizado em 1977, e viria a ser ele a assinar a adesão na manhã do dia 12 de Julho de 1985, numa cerimónia no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa.
Em 1986, na sequência de uma memorável campanha eleitoral, para a qual partiu com sondagens que a davam como uma tarefa impossível, foi eleito Presidente da República, o primeiro civil a ser eleito depois do 25 de Abril. Depois das mais disputadas eleições presidenciais da nossa democracia, disputadas debaixo de um clima político de grande antagonismo, Mário Soares anunciaria na própria noite da vitória a extinção da maioria que o elegeu, fazendo dos seus dois mandatos um exercício correspondente ao lema que enunciou na tomada de posse: “Servir Portugal, unir os portugueses”. A sua atuação presidencial valeu-lhe os mais altos índices de popularidade e reconhecimento. O seu exercício do cargo, a leitura que fez dos poderes presidenciais e daquilo que designou como “magistratura de influência”, marcaria de forma irreversível a forma como os portugueses passaram a olhar para a Presidência da República.
Servir Portugal
Mas se muitos pensavam que com o final do seu segundo mandato presidencial terminaria a sua carreira política, esse facto viria a ser desmentido pela natureza indomável de puro “animal político” que sempre o caracterizou. Em 1999, voltaria a ganhar umas eleições, como cabeça de lista do PS às eleições europeias desse ano, tendo exercido o seu mandato como deputado europeu. Em 2005, com 80 anos, Mário Soares voltaria a ser candidato à Presidência da República, não tendo conseguido a eleição. Mas continuou a manter uma permanente atenção e reflexão sobre a política portuguesa e mundial, traduzida em tomadas de posição e em várias ações, que lhe valeram ainda em 2013 ser considerado pela Associação da Imprensa Estrangeira radicada no nosso país a personalidade do ano em Portugal.
Luto nacional de três dias
O Governo decretou luto nacional por três dias pela morte de Mário Soares, sublinhando a incondicional dedicação à causa pública e o exemplar contributo para o prestígio de Portugal de “uma das grandes figuras da história portuguesa do século XX e do início do século XXI, e fundador do nosso regime democrático”.
“Pelos cargos cimeiros que ocupou no Estado e pelas decisões de largo alcance que tomou para o país, foi o protagonista político do nosso tempo e aquele que mais configurou a democracia portuguesa nas suas opções fundadoras”, refere o texto do decreto.
A Assembleia da República realizará na próxima quarta-feira, a partir das 15h00, uma sessão evocativa, que será aberta pelo presidente da AR, Eduardo Ferro Rodrigues, que lerá o voto de pesar do Parlamento, seguindo-se intervenções de todas as bancadas, a última das quais proferida pelo Partido Socialista.
Cerimónias Fúnebres
O corpo de Mário Soares está hoje em câmara ardente na Sala dos Azulejos do Mosteiro dos Jerónimos, aberta ao público até à meia-noite e amanhã a partir das 8h00 e até às 11h00.
Pelas 13h00 de terça-feira, será realizada uma sessão solene evocativa de homenagem, que incluirá excertos da voz de Mário Soares e da sua mulher, Maria de Jesus Barroso, falecida em 2015, e intervenções dos filhos, João e Isabel Soares.
Será também transmitida uma intervenção em vídeo do primeiro-ministro, António Costa, que se encontrar em visita de Estado à Índia, antecedendo as intervenções do presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, e do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Depois desta sessão solene, pelas 14h00 a urna sairá do Mosteiro dos Jerónimos, seguindo em cortejo para o cemitério dos Prazeres, fazendo breves paragens no Palácio de Belém, Assembleia da República, Fundação Mário Soares e na sede nacional do PS, no Largo do Rato.
No cemitério dos Prazeres, terá lugar um último momento evocativo, em que será novamente ouvida a voz de Mário Soares. Depois será feita uma salva de 21 tiros de artilharia, a partir de uma embarcação da Marinha, no Tejo. A urna será depois transportada por militares das Forças Armadas para o jazigo familiar.
Livro de Condolências
O Partido Socialista disponibiliza um Livro de Condolências na sede nacional, no Largo do Rato, em Lisboa, a todos os que queiram deixar uma mensagem de homenagem a Mário Soares, podendo fazê-lo igualmente através do Livro de Condolências online. Todas todas as Federações distritais e secções do Partido Socialista espalhadas pelo país disponibilizam também Livros de Condolências para o mesmo efeito.